Entenda tudo sobre riscos psicossociais no trabalho

Na última semana, houve uma mudança significativa em torno da NR-1. De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, a norma entrará em vigor em caráter educativo a partir de 26 de maio de 2025. Isso significa que as empresas já poderão analisar e implementar medidas para o gerenciamento de riscos psicossociais no ambiente de trabalho, mas durante o primeiro ano, não haverá aplicação de multas.

A verdade é que muitos profissionais ficaram em dúvida do que se caracteriza como risco psicossocial, além de quais seriam as responsabilidades da empresa e da pessoa colaboradora nesse processo de gerenciamento.

Ter uma ampliação no prazo vai ajudar as empresas a terem mais tempo para entender e se adequar à norma, garantindo assim que a saúde mental seja protagonista no ambiente de trabalho.

Neste artigo, você vai entender mais sobre os seguintes pontos:

  • O que de fato são riscos psicossociais?

  • As diferenças entre fatores de risco psicossociais e riscos psicossociais?

  • Exemplos dos principais fatores de riscos psicossociais.

  • Boas práticas e estratégias de prevenção.

Boa leitura!


 

O que são riscos psicossociais?

Os riscos psicossociais são uma consequência da exposição da pessoa colaboradora a condições no ambiente de trabalho que podem desencadear problemas psicológicos ou físicos.

Uma pessoa que vive, por exemplo, em uma situação de pressão por metas inalcançáveis pode em algum momento desenvolver estresse ocupacional e burnout, que são resultados dessa rotina de trabalho.

Quando falamos dos riscos psicossociais, estamos falando da possibilidade de ocorrência de um problema (seja como transtorno, lesão ou acidente de trabalho). É importante entender que o conceito de risco está vinculado ao adoecimento.

O que as empresas devem começar a se preocupar é com a identificação desses fatores de risco psicossociais, ou seja, das condições de trabalho que estão contribuindo para o adoecimento das pessoas colaboradoras.

O gerenciamento de riscos ocupacionais (GRO), que é uma das exigências da atualização da NR-1, obriga a empresa a implementar um processo contínuo e sistemático de gestão de riscos ocupacionais. Isso inclui identificar riscos e fatores de risco presentes no ambiente de trabalho e controlar esses riscos por meio de medidas preventivas e corretivas.

A empresa também pode se atentar aos sinais que a pessoa colaboradora apresenta antes dela adoecer, para conseguir intervir e evitar que o risco psicossocial se estabeleça. Alguns destes sinais são:

  • Alterações no comportamento e nas relações interpessoais;

  • Queda de produtividade e desempenho;

  • Cansaço persistente e queixas constantes;

  • Desinteresse e apatia;

  • Comportamentos defensivos ou reativos;

  • Dificuldades cognitivas.

Qual a diferença entre fatores de risco psicossociais e riscos psicossociais?

A principal diferença entre os fatores de risco psicossociais e os riscos psicossociais é que, enquanto os riscos são a possibilidade de uma consequência, os fatores são os elementos que podem influenciar nessa consequência. De forma mais prática, os fatores de risco psicossociais são as condições presentes no ambiente de trabalho que podem levar ao desenvolvimento de problemas psicológicos ou físicos.

⚠️É importante entender que os fatores, por si só, não causam adoecimento, mas que aumentam a probabilidade de que isso ocorra.

Lembra do exemplo que demos da pessoa que vive diariamente com a pressão da entrega de metas inalcançáveis? Essa exposição prolongada à pressão, mesmo que o trabalhador não esteja manifestando sintomas de imediato, não causa diretamente o risco, mas cria um ambiente propício ao problema que no nosso exemplo foi o estresse ocupacional e burnout.

Os fatores não atuam de maneira isolada e nem seguem uma lógica simples de causa e efeito; ao contrário, eles interagem entre si, podendo funcionar como mediadores, moderadores ou até como indicadores indiretos de outros riscos. Isso significa que a exposição a esses fatores pode gerar consequências diferentes em cada indivíduo, dependendo do contexto e da forma como esses elementos se combinam no cotidiano de trabalho.

Os fatores de risco psicossociais estão relacionados diretamente com a organização do trabalho. Eles decorrem de problemas na concepção, na organização e na gestão do trabalho, podendo gerar vários efeitos à saúde do trabalhador em nível psicológico, físico e social.

Na avaliação dos fatores de risco psicossociais no ambiente de trabalho, o objetivo é identificar quais aspectos deste ambiente funcionam como estressores e podem resultar em lesões ou danos à saúde do trabalhador. Existe também a avaliação psicossocial, que se concentra na interação dinâmica entre os indivíduos e seu trabalho, considerando tanto as características do trabalho em si quanto as características individuais dos trabalhadores.

Você pode ler mais sobre avaliação psicossocial aqui.

A análise de Fatores de Riscos Psicossociais é uma metodologia utilizada para avaliar riscos ocupacionais no ambiente de trabalho. Ela não precisa ser realizada exclusivamente por médicos ou psicólogos, já que a NR-1 não especifica um profissional único para essa função. Essa análise pode ser realizada por profissionais da área de saúde e segurança no trabalho (SST), como:

  • Técnicos de segurança;

  • Engenheiros;

  • Ergonomistas;

  • Profissionais especializados em análise de risco.

No entanto, dependendo do plano de ação, pode ser necessário envolver outros especialistas.



Principais fatores de riscos psicossociais no trabalho

Como falamos, os fatores de riscos podem afetar cada pessoa colaboradora de um jeito diferente. Não é todo mundo que é exposto a um fator de risco que vai desenvolver um problema de saúde, porém isso não significa que a empresa deve ignorar ou minimizar o cuidado com o ambiente de trabalho. Quanto mais ações para tornar o ambiente de trabalho mais seguro e saudável, mais positivos serão os indicadores de sucesso da organização.

Quando a empresa não faz a gestão dos fatores de riscos psicossociais, ela está suscetível a enfrentar:

  • Aumento no absenteísmo, que reflete na queda de produtividade.

  • Problemas de saúde mental elevam os custos com planos de saúde em até 30% ao ano.

  • Muitos afastamentos estão virando ações trabalhistas de até R$ 180 mil por colaborador.

Dentre alguns fatores de riscos psicossociais mais comuns estão:

1. Assédio de qualquer natureza no trabalho.

O assédio é infelizmente uma realidade muito presente no ambiente corporativo. Uma pessoa que, por exemplo, sofre frequentemente com comentários ofensivos e humilhações pode acabar desenvolvendo algum transtorno mental que é um risco psicossocial. 

2. Má gestão de mudanças organizacionais.

Em cenário de constantes mudanças, é fundamental que a empresa seja transparente e comunique claramente o que está acontecendo. 

Uma empresa que implementa um novo sistema de trabalho sem treinar os funcionários ou comunicar claramente as mudanças, pode acabar gerando insegurança e resistência. Quando essa situação acontece com frequência, pode desencadear problemas como transtornos mentais e DORT, também conhecido como distúrbios osteo musculares relacionados ao trabalho, que é um conjunto de doenças que afetam músculos, tendões, articulações e nervos.

3. Baixa clareza de papel e função. 

Ter clareza das funções e objetivo do trabalho faz as pessoas se comprometerem e engajarem mais. Um funcionário que não sabe exatamente quais são suas responsabilidades pode acabar acumulando tarefas de outras áreas, sem saber o que é esperado dele. O resultado disso é um possível burnout no futuro.

4. Baixas recompensas e reconhecimento. 

Quando uma pessoa colaboradora entrega resultados excelentes, mas nunca recebe feedback positivo ou reconhecimento, nem aumento ou promoção justa. Isso pode afetar o emocional dela e gerar problemas como ansiedade e depressão.

5. Falta de suporte/apoio no trabalho. 

Ter uma liderança e até mesmo colegas de trabalho que oferecem suporte e apoio na execução de demandas pode aumentar a motivação e desempenho do colaborador. Se uma pessoa enfrenta dificuldades e não consegue ajuda do gestor ou da equipe, sentindo-se sozinho para resolver problemas, pode acontecer dela desenvolver transtornos como burnout e depressão, que são riscos psicossociais.

6. Baixo controle no trabalho/Falta de autonomia.

A falta de autonomia e o constante micro gerenciamento são um perigo para a saúde mental da pessoa colaboradora. Em um cenário onde o trabalhador precisa seguir regras rígidas para cada tarefa, não tem liberdade para decidir a melhor forma de realizar seu trabalho e é questionado frequentemente sobre o seu ritmo de trabalho, ele pode acabar apresentando problemas como transtornos mentais e DORT.

7. Eventos violentos ou traumáticos.

Imagine um colaborador que presencia um colega sofrer um acidente grave com uma máquina durante o expediente. Mesmo sem ter se ferido fisicamente, ele fica emocionalmente abalado com a cena e precisa ser bem acompanhado para que não se transforme em um risco psicossocial.

Esse tipo de situação pode gerar transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) ou quadros de ansiedade se não houver apoio psicológico adequado. Inclusive, é muito importante que a avaliação psicossocial seja feita sempre que a pessoa colaboradora passe por esse tipo de situação.

8. Baixa demanda no trabalho (subcarga) 

É comum ouvir sobre o excesso de demandas, mas a verdade é que a baixa demanda de trabalho também pode oferecer riscos para a saúde mental da pessoa colaboradora. Pense nessa situação: Um profissional qualificado e com muita experiência passa longos períodos sem tarefas desafiadoras ou relevantes. A tendência é que essa pessoa se sinta excluída, com medo de ser demitida, “mal aproveitada” e desmotivada. Com o tempo, esses sentimentos podem levar a uma depressão, que é um risco psicossocial.

9. Excesso de demandas no trabalho (sobrecarga) 

Muito se fala sobre o burnout e a romantização do trabalho em excesso. Esse fator de risco psicossocial é um dos mais comuns e muitas vezes a vítima nem sente o problema acontecendo. Um colaborador com prazos apertados, trabalha horas extras frequentes e não consegue dar conta de todas as tarefas, pode acabar ficando estressado e desenvolvendo ansiedade, burnout e DORT.

10. Relacionamentos ruins no local de trabalho. 

Conflitos constantes no ambiente de trabalho claramente são um sinal de que as coisas não estão funcionando. Situações como conflitos internos, fofocas, competição desleal ou falta de respeito prejudicam o clima organizacional e desencadeiam transtornos psicológicos.

Boas práticas e estratégias de prevenção contra riscos psicossociais

A NR-1 é muito mais que uma norma técnica. Ela é um convite para uma mudança estrutural na forma como as empresas lidam com os riscos psicossociais. Mas para que essa transformação aconteça de verdade, é preciso o envolvimento de três pilares fundamentais: o RH, a liderança e os colaboradores.

O RH assume o papel estratégico, garantindo que as iniciativas saiam do papel e se tornem parte da cultura organizacional. É ele quem conecta os diferentes atores, identifica lacunas e cria estratégias para engajar as lideranças, que, por sua vez, precisam estar preparadas para construir relações de confiança com suas equipes e atuar de forma preventiva. 

Se, por exemplo, sua empresa tem um canal de denúncias, é papel do RH divulgar esse canal e incentivar seu uso. Essa é uma forma de mapear possíveis fatores de risco e agir antes que o problema aconteça. Imagine o caso em que um colaborador está se sentindo pressionado e, por se sentir seguro, faz um relato no canal. Após apurar o caso, o RH pode verificar que há uma sobrecarga na área ou mesmo cruzar com outros relatos semelhantes e atuar antes que isso vire uma bola de neve com pedidos de licença, demissão, desmotivação e conflitos no time por estresse.

O objetivo do GRO é justamente garantir que os trabalhadores tenham condições seguras e saudáveis para trabalhar, evitando acidentes e doenças ocupacionais. 

Dentre algumas estratégias de prevenção e intervenção dos riscos psicossociais estão:

  • Mapeamento do ambiente de trabalho.

  • Aprimoramento da comunicação interna.

  • Implementação de programas de reconhecimento.

  • Treinamentos em habilidades de enfrentamento do estresse.

  • Desenvolvimento de ações de bem-estar.

  • Investimento em ergonomia e melhorias nas condições físicas de trabalho.

  • Estabelecimento de canais de diálogo e suporte, como o canal de escuta e o canal de denúncia.

Independente do tamanho da empresa, entender e saber mapear os riscos psicossociais é algo fundamental para a gestão de pessoas e indispensável para a promoção de um ambiente de trabalho mais saudável.


Quer entender como tornar o ambiente de trabalho mais saudável e assim aumentar a produtividade e o engajamento das pessoas colaboradoras da sua empresa? Acompanhe as nossas redes sociais e confira os nossos conteúdos!


Veja também estes artigos:

Avaliação psicossocial e NR-1: entenda a relação.

O que é a NR-1: tudo o que você precisa saber sobre a norma.

Como o RH pode medir o resultado de ações de saúde mental.


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