Avaliação psicossocial e NR-1: entenda a relação
A saúde mental no ambiente de trabalho está cada vez mais em evidência, ganhando destaque como um pilar fundamental para a produtividade e o sucesso de qualquer organização. Com a atualização da NR-1 (Norma Regulamentadora 1), o olhar para os riscos psicossociais ganhou força.
Nesse contexto, a avaliação psicossocial age como uma ferramenta importante para identificação e mitigação dos fatores de riscos psicossociais presentes no ambiente de trabalho.
Compreender essa sinergia é o primeiro passo para empresas que buscam não apenas cumprir a legislação, mas também investir no capital humano, reconhecendo que um ambiente de trabalho psicologicamente saudável é um motor essencial para o crescimento sustentável.
Neste artigo, você vai entender mais sobre os seguintes pontos:
O que é a avaliação psicossocial?
Como funciona a avaliação psicossocial?
Como a Avaliação Psicossocial se encaixa no PGR?
Qual a diferença entre uma avaliação psicossocial e a avaliação de fatores de riscos psicossociais?
Boa leitura!
O que é a avaliação psicossocial?
A avaliação psicossocial é um processo indispensável para empresas que realmente se preocupam com a segurança e a qualidade de vida de seus colaboradores, além de ser uma exigência de algumas NRs como:
NR-20: trabalho com líquidos combustíveis e inflamáveis;
NR-33: trabalho em espaço confinado;
NR-34: trabalho nas atividades da indústria de construção, reparação e desmonte naval;
NR-35: trabalho em altura.
Basicamente, ela consiste em uma análise detalhada de como o ambiente de trabalho e as exigências da função exercem impacto sobre o equilíbrio mental e psicológico de cada indivíduo.
Para entender melhor, imagine o dia a dia de profissionais que enfrentam situações de risco, como o trabalho em altura, o manuseio de materiais inflamáveis ou a atuação em espaços confinados. Essas atividades demandam um alto nível de autocontrole e, frequentemente, podem gerar um desgaste psíquico significativo e elevados níveis de estresse.
Nesse contexto, a avaliação psicossocial se torna um recurso valioso. Ela atua como um mapeamento abrangente de diversos fatores, incluindo o perfil comportamental, as características psicológicas e os riscos emocionais aos quais os trabalhadores estão expostos. Ao identificar esses elementos, a empresa pode atuar de forma proativa na prevenção de acidentes e na promoção da saúde mental de toda a equipe.
Em termos práticos, a avaliação psicossocial analisa se um colaborador está apto a desempenhar suas funções em situações que envolvem um ou mais riscos específicos inerentes ao seu cargo. Isso inclui atividades com exposição à alta pressão, tomada de decisões sob pressão de tempo, e outras situações que demandam certas características pessoais e emocionais para serem realizadas com segurança e bem-estar.
Como funciona a avaliação psicossocial?
A avaliação psicossocial é obrigatoriamente integrada à etapa admissional e deve ser repetida anualmente, sendo importante lembrar que ela só é exigida dependendo dos riscos identificados no PGR da empresa e pelas exigências específicas das normas regulamentadoras. É interessante também que a avaliação seja feita após o envolvimento do colaborador em acidentes, com o objetivo de identificar se um estado psicológico inadequado pode ter sido um fator contribuinte e, assim, evitar recorrências.
É fundamental compreender que cada avaliação é única e personalizada, moldada pelas particularidades do cargo, do ambiente de trabalho e dos riscos previamente identificados no PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos) da organização. Para coletar informações relevantes e abrangentes, o processo de avaliação psicossocial se apoia em uma combinação de métodos como:
1. Entrevistas Individuais: este método consiste em conversas diretas e aprofundadas entre o profissional de saúde ocupacional e o trabalhador. O objetivo principal é compreender o histórico emocional do indivíduo, suas experiências vivenciadas no ambiente de trabalho e seu nível de satisfação com as condições laborais. Através da escuta ativa e de perguntas direcionadas, busca-se identificar possíveis fatores de risco psicossocial e o impacto do trabalho na saúde mental do colaborador.
2. Aplicação de Testes Psicológicos: utilizam-se testes psicológicos validados para analisar aspectos psicológicos específicos, como o controle emocional, a resiliência diante de desafios e a capacidade de lidar com pressão. Essas características são consideradas essenciais para o desempenho seguro e eficaz de funções que exigem um alto grau de concentração e estabilidade emocional, especialmente em atividades de risco.
3. Questionários sobre o contexto laboral: a investigação do ambiente de trabalho é realizada através de questionários que visam identificar fatores externos que podem influenciar o bem-estar do profissional. Isso inclui a análise de condições como níveis de pressão, a percepção de apoio por parte da liderança e dos colegas, e a presença de demandas excessivas que possam gerar estresse e desgaste.
4. Feedback e Discussão de Resultados: após a coleta e análise dos dados, o profissional de saúde ocupacional compartilha os insights obtidos com o funcionário e com os gestores. Este momento de feedback é crucial para promover a conscientização e possibilitar o desenvolvimento de estratégias eficazes para a criação de um ambiente de trabalho mais seguro e equilibrado para todos os envolvidos.
Além desses métodos principais, a avaliação psicossocial pode também se valer de:
Questionários sobre clima organizacional e estresse: Ferramentas para avaliar a percepção coletiva sobre o ambiente de trabalho e identificar níveis de estresse na equipe.
Observação comportamental: Análise direta do comportamento dos trabalhadores no ambiente de trabalho, buscando identificar sinais de desconforto ou dificuldades.
Como a avaliação psicossocial se encaixa no PGR?
A avaliação psicossocial pode fazer parte do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), atuando como uma ferramenta estratégica para a identificação, prevenção e gestão de riscos psicossociais no ambiente de trabalho. Ela não é um procedimento isolado, mas sim um componente do PGR, integrando-se ao mapeamento e controle de riscos ocupacionais.
Identificação de fatores de risco psicossociais: o PGR, em sua essência, visa identificar e avaliar todos os riscos ocupacionais, incluindo os psicossociais. A avaliação psicossocial entra nesse processo, fornecendo dados detalhados sobre os fatores que podem comprometer a saúde mental dos trabalhadores. Isso inclui a análise de aspectos como carga de trabalho, relações interpessoais, clima organizacional, estresse, entre outros.
Proposição de medidas de prevenção e acompanhamento: com base nos resultados da Avaliação Psicossocial, o PGR pode propor medidas de prevenção e controle dos fatores de risco psicossociais identificados. Isso pode incluir a implementação de programas de promoção da saúde mental, a adoção de práticas de gestão que reduzam o estresse, a oferta de apoio psicológico aos trabalhadores, a adequação do ambiente de trabalho, entre outras ações.
Base para o inventário de riscos: a avaliação psicossocial pode fornecer dados qualitativos e quantitativos que alimentam o inventário de riscos do PGR.
Auxílio ao RH e ao SESMT na tomada de decisões: os resultados da Avaliação Psicossocial fornecem informações valiosas para o RH e o SESMT (Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho) na tomada de decisões relacionadas à gestão de pessoal e à saúde ocupacional.
Ela apoia a tomada de decisão sobre a aptidão psicossocial dos trabalhadores para atividades críticas, garantindo que apenas profissionais com o perfil adequado desempenhem funções que exigem alta estabilidade emocional e controle.
Qual profissional deve ser responsável pela avaliação psicossocial?
A responsabilidade pela realização da avaliação psicossocial recai, principalmente, sobre psicólogos devidamente habilitados e registrados no Conselho Regional de Psicologia (CRP). Em alguns casos específicos, psiquiatras também podem estar aptos a realizar essa avaliação, especialmente quando há necessidade de diagnóstico de transtornos mentais.
É fundamental que o profissional responsável possua:
Formação em psicologia ou psiquiatria: A base teórica e técnica dessas áreas é essencial para a aplicação e interpretação dos instrumentos e para a condução das entrevistas.
Registro profissional ativo: O registro no respectivo conselho garante que o profissional está apto a exercer a profissão de forma ética e legal.
Conhecimento em saúde e segurança do trabalho: É importante que o profissional compreenda o contexto do trabalho, os riscos ocupacionais (incluindo os psicossociais) e a legislação pertinente.
Experiência em avaliação psicológica: O profissional deve ter domínio de diferentes instrumentos e técnicas de avaliação psicológica, incluindo testes, questionários e entrevistas, sabendo como aplicá-los, interpretá-los e integrá-los para obter um quadro completo do trabalhador em relação às demandas do trabalho.
Qual a diferença entre uma avaliação psicossocial e a avaliação de fatores de riscos psicossociais?
Embora os termos “avaliação psicossocial” e “avaliação de fatores de risco psicossociais” estejam intrinsecamente ligados e visem à promoção de um ambiente de trabalho saudável, eles possuem focos e metodologias distintas.
Na avaliação de fatores de risco psicossociais, que é uma exigência da NR-1, o principal objetivo é identificar elementos presentes no ambiente de trabalho que possuem o potencial de gerar adoecimento mental nos trabalhadores. Ela se concentra na interação entre o trabalho/ambiente e os indivíduos, buscando mapear condições laborais específicas que podem ser prejudiciais. Exemplos desses fatores incluem:
Alta demanda emocional;
Pressão excessiva;
Falta de suporte organizacional;
Metas irreais;
Carga horária extensa;
Liderança com comunicação inadequada.
Essa avaliação, como exigida na NR-01, é essencialmente um diagnóstico do trabalho, e não primariamente do indivíduo. Seu foco reside em identificar os riscos presentes no ambiente laboral, com o objetivo de recomendar intervenções e melhorias nesse ambiente. A experiência em ergonomia é considerada valiosa para o profissional que realiza essa avaliação, dada a íntima relação entre os fatores psicossociais e outros aspectos do ambiente de trabalho, como os biomecânicos, a demanda e o controle sobre as tarefas.
Já na avaliação psicossocial, existe um escopo mais amplo e frequentemente se concentra na interação dinâmica entre os indivíduos e seu trabalho, considerando tanto as características do trabalho em si quanto as características individuais dos trabalhadores. Ela busca entender a capacidade de resposta do indivíduo às demandas e situações de trabalho, suas expectativas, condições culturais, sociais e familiares, além de variáveis individuais como idade, gênero, educação, autoconfiança e traços de personalidade.
Embora a avaliação psicossocial também considere os fatores de risco presentes no ambiente de trabalho, ela se aprofunda na análise do indivíduo em relação a esses riscos. Em contextos específicos, como atividades de risco (mencionadas em outras NRs), a avaliação psicossocial visa determinar a aptidão psicossocial do trabalhador para desempenhar suas funções com segurança, considerando características individuais como autoestima, autocontrole, otimismo e pertencimento ao grupo.
Com isso, podemos concluir que, por mais que haja uma distinção entre a avaliação focada nos fatores de risco psicossociais e aquela que se debruça sobre a interação indivíduo-trabalho, ambas são valiosas para uma abordagem completa da saúde ocupacional.
Apesar de sua aplicação não ser universal, a avaliação psicossocial se revela necessária em atividades de risco e em cenários onde o PGR aponta para a presença significativa de riscos psicossociais.
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