NR-1 na corda bamba: o problema da liderança despreparada

O cenário do mercado de trabalho atual demonstra uma preocupação em cuidar mais de questões de saúde mental e promover um ambiente de trabalho saudável. Prova disso são as diversas discussões sobre o impacto das lideranças despreparadas na produtividade das equipes e retenção de talentos, além de iniciativas do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) para garantir segurança e saúde para os trabalhadores no Brasil, como a atualização da NR-1.

Em algum momento, você já parou para pensar em quantas vezes uma liderança influenciou de forma positiva ou negativa a sua vida? 

Um dos principais fatores que ainda dificulta a promoção de um ambiente saudável nas empresas é a existência de lideranças despreparadas. Quando líderes não estão devidamente capacitados para lidar com as complexidades das dinâmicas de trabalho e as necessidades emocionais de suas equipes, o ambiente se torna um terreno fértil para o aumento do estresse, ansiedade e outros problemas relacionados à saúde mental.

Neste artigo, abordaremos sobre os impactos que a falta de preparo de uma liderança causa no clima organizacional da empresa e no cumprimento da NR-1, e como a área de recursos humanos pode tratar esse cenário.


 

O que é uma liderança despreparada?

A falta de preparo de lideranças representa um dos maiores desafios enfrentados pelas áreas de Recursos Humanos (RH) nas empresas. Por mais que muitos líderes tenham a capacidade técnica excepcional, a falta de habilidades adequadas em questões como:

  • Gestão de conflitos;

  • Comunicação;

  • Empatia;

  • Inteligência emocional;

  • Saúde mental.

Podem afetar o desempenho das equipes e gerar um círculo vicioso de desmotivação e alta rotatividade de pessoas colaboradoras.

Em um encontro da SafeComunidade realizado em junho de 2024 sobre liderança ética e gestão de conduta, um dos questionamentos levantados foi a importância de observar o perfil comportamental da pessoa antes de promover ela para uma liderança.

Deives Rezende, Rafaela Frankenthal e Gustavo Lucena.

Segundo o palestrante Deives Rezende, da Condurú Consultoria, muitas vezes as empresas olham apenas para a avaliação de performance e não para se a pessoa quer ou tem as skills comportamentais necessárias para uma boa liderança, e isso pode acabar se tornando um problema para a empresa.


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Podemos dizer que uma liderança despreparada é aquela que não possui as habilidades necessárias para fazer uma boa gestão de pessoas. Como citamos, muitas vezes existe um conhecimento técnico ótimo, mas faltam as habilidades interpessoais, que facilitam as relações e a gestão de equipes.

No caso da saúde mental, uma das principais razões pelas quais alguns líderes ignoram essa questão é a falta de conhecimento sobre o assunto. Conforme o estudo 'Inteligência Emocional e Saúde Mental no Ambiente de Trabalho', da The School of Life, 61% dos liderados acreditam que suas lideranças não estão preparadas para lidar com questões de saúde mental.

Fica claro que a liderança tem um papel fundamental na cultura e clima organizacional, porém esses líderes ainda não se sentem preparados para conversar sobre temas como saúde mental ou até mesmo para gerenciar pessoas.

 A pesquisa “O Futuro do Trabalho” da Dale Carnegie mostrou que 71% dos líderes globais acreditam que suas empresas não os preparam adequadamente para os desafios do futuro. 

Como esperar que a liderança espalhe a cultura organizacional e seja um exemplo, se ela está, de certa forma, “perdida”?

Por que essa liderança pode prejudicar a aplicação da NR-1?

A atualização mais recente da NR-1 incluiu o gerenciamento de riscos psicossociais, como estresse, assédio moral e carga excessiva de trabalho. Pensando nesse objetivo, a falta de preparo da liderança pode afetar completamente a aplicação dessa norma, uma vez que se não se tem o preparo para lidar com questões emocionais, como evitar que problemas como estresse e assédio moral aconteçam?

Quando a liderança não tem as habilidades como empatia e inteligência emocional, dificilmente ela vai conseguir validar as emoções da equipe e, em muitos casos, agir de uma forma que prejudica ainda mais a saúde mental. 

Existe ainda o ponto que muitos líderes não conseguem reconhecer que a própria saúde mental pode estar comprometida e isso é um fator crítico que impacta não apenas seu desempenho individual, mas também o bem-estar e a motivação de suas equipes.

A pressão constante para obter resultados e manter a equipe motivada pode levar os líderes a esquecer do seu próprio bem-estar emocional, resultando em estresse e burnout.

De acordo com um estudo realizado pela The School of Life, os líderes apresentam sintomas como: 

  • ansiedade (64%);

  • estresse (48%);

  • insônia (27%);

  • burnout (20%);

  • depressão (10%).

Se você tem uma liderança com alto nível de estresse e ansiedade ela pode passar esse comportamento para seus liderados, que por sua vez vão transmitindo para seus colegas de trabalho. Isso pode acabar saindo do controle e tomando conta de toda a organização, o resultado é um ambiente de trabalho tomado pela pressão e estresse, quase a ponto de explodir.

Uma das formas de ter mais eficiência para atender as exigências que a atualização da NR-1 apresenta é cuidar da liderança. Líderes com boa saúde mental são capazes de inspirar e orientar suas equipes, criando um ambiente de trabalho positivo, produtivo e mais saudável.



Como profissionais de RH podem identificar e corrigir esse problema

Uma pessoa que não tem as habilidades necessárias para liderar pode prejudicar os indicadores não só da área que a equipe faz parte como também de toda a organização. 

É evidente que a liderança despreparada impacta negativamente o clima organizacional e a produtividade da equipe. As principais consequências incluem:

  1. Ambiente de trabalho tóxico: líderes que desconsideram as necessidades dos colaboradores criam um clima de desmotivação e desvalorização.

  2. Absenteísmo e presenteísmo: A falta de motivação leva à ausência física ou à presença sem engajamento, prejudicando a produtividade.

  3. Perda de talentos: profissionais talentosos podem deixar a empresa devido à insatisfação com a liderança, gerando custos e perda de conhecimento.

  4. Sobrecarga do RH: A falta de gestão adequada das equipes sobrecarrega o RH com problemas que deveriam ser resolvidos pelos líderes.

É extremamente necessário que profissionais de RH estejam atentos ao comportamento das lideranças para conseguirem atuar diretamente no desenvolvimento delas. Se você identifica que uma liderança não está conduzindo a equipe bem, é preciso criar um plano de ação para intervir e corrigir a situação.

Apesar do desenvolvimento de lideranças ser um dos principais desafios que a área de RH enfrenta, um estudo realizado pelo pesquisador Josh Bersin, com mais de oito mil profissionais do RH, mostra que o Desenvolvimento de Lideranças é uma das ações que apresentam um maior impacto no crescimento das organizações.

Um dos caminhos para fazer com que questões como saúde mental e bem-estar façam de fato parte da cultura da organização e não sejam apenas um discurso, é o trabalho conjunto de profissionais de RH e líderes. A área de RH deve se aliar às lideranças para que elas reconheçam, compreendam e atuem como um exemplo de bons comportamentos.

Para criar uma estrutura de desenvolvimento de lideranças você pode considerar as seguintes etapas:

O que precisa ser desenvolvido?

Esse é o ponto de partida do desenvolvimento. Você precisa ter uma visão do comportamento da liderança para conseguir atuar diretamente na habilidade que é o problema. Se você tem uma liderança que não consegue se comunicar com clareza, é um sinal de que ela precisa desenvolver a habilidade de comunicação.

Ter um canal de denúncias na empresa pode ser um ótimo recurso para ter uma visão dos problemas e de quais habilidades precisam ser trabalhadas. Você pode saber mais sobre o canal de denúncias aqui.

Comunicação e alinhamento: 

Após identificar a habilidade que a liderança precisa desenvolver, você precisa comunicar a ela o que foi observado e propor um plano de ação. Em alguns casos, essa conversa pode ser difícil, mas ela é necessária para a liderança estar mais alinhada com os objetivos da organização.

Assista à Masterclass Como se preparar para conversas difíceis, realizada em parceria com a especialista em comunicação não violenta, Paula Pontvianne.

Plano de ação: 

Crie um plano detalhado com metas, ações, prazos. Você pode propor treinamentos, mas é interessante pensar neles como um dos muitos recursos de aprendizado e desenvolvimento. Fazer com que as lideranças assistam a um treinamento monótono e desconectado do contexto da empresa não será tão eficiente.

Invista em experiências, muitas coisas aprendemos na prática e isso também vale habilidades comportamentais. Você pode propor atividades que façam a liderança sair da sua zona de conforto e explorar a habilidade que está sendo desenvolvida.

Mentorias e trocas de experiências também são uma ótima forma de desenvolver habilidades. Ouvir como uma pessoa lidou com uma situação pode abrir os olhos e provocar uma reflexão sobre o próprio comportamento.

Monitoramento e feedback

Crie uma rotina de acompanhamento e feedback, ter momentos de troca de experiências, propor desafios e atividades que trabalhem habilidades emocionais e incentive a abertura de diálogo. O acompanhamento de lideranças deve ser próximo e constante para reforçar a parceria entre líderes e profissionais de RH.


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