Uma conversa sobre desenvolvimento de lideranças éticas com Karla Ribeiro

Karla Ribeiro é cofundadora da Kipon, uma empresa de tecnologia direcionada para o setor de RH que aborda gestão por competências. Ela tem experiência de mais de 10 anos no mercado corporativo, mais especificamente na área de Recursos Humanos e desenvolvimento de lideranças e já passou por grandes empresas como Vtex, Nubank e Banco Votorantim.

Nessa conversa levantamos pontos importantes sobre a influência da cultura no desenvolvimento de lideranças éticas, o quanto esses líderes estão abertos para debates éticos, a necessidade da habilidade de comunicação e o impacto da liderança ética no crescimento de empresas. 

Confira nosso papo:

 

Quais são os principais desafios que os gestores de RH enfrentam para incentivar e criar lideranças éticas?

Quando falamos de uma liderança ética, estamos tratando de uma liderança que está sendo criada dentro de uma cultura específica. Quem está à frente da área de Recursos Humanos precisa garantir que a cultura da empresa esteja alinhada a uma liderança ética.

É importante destacar que a criação e estabelecimento de uma cultura não é responsabilidade apenas do setor de RH, mas envolve alta liderança e o comportamento das pessoas colaboradoras no dia a dia. Isso significa que a construção de uma cultura na empresa é um trabalho em conjunto.

Outro ponto que é um desafio é retirar a pessoalidade do tema. Chegar para uma liderança e dizer que a partir deste momento ela precisa ser ética, soa como se estivesse apontando que ela não tem sido, porém, não é bem assim, solicitar que a liderança seja ética está ligada ação de transmitir as regras que fazem parte da cultura da empresa de forma clara e garantir que elas sejam seguidas.

A construção da confiança e de um espaço seguro para debates também é um dos desafios do RH. As pessoas responsáveis devem envolver todas as lideranças nesse processo de capacitação para uma gestão mais ética e incentivar a troca de experiências baseada na franqueza e transparência.


 

As lideranças estão abertas para debates éticos?

Há um movimento para a aceitação dessas conversas, entretanto ainda existem alguns bloqueadores. Para quebrar essa resistência o RH pode tirar a pessoalidade do assunto (claro que quando não há de fato uma situação envolvendo as pessoas) e a desconstrução de tabus em torno do tema em debate.


Qual a principal habilidade para uma liderança ética?

Partindo do caminho das habilidades humanas, uma boa comunicação é fundamental para uma liderança ética. Aqui estamos falando de uma comunicação que é empática, que consiga “olhar” para o outro pelo que ele é e que seja transparente acima de tudo.

Tem sido bastante complicado ter conversas com líderes que não fazem parte de um grupo mais diverso e que não conseguem fazer essa transposição de valores para as pessoas que estão à sua frente. É importante destacar que está tudo bem não saber, mas através de uma comunicação transparente se colocar aberto a aprender.

Outro caminho é entender qual é o jogo do negócio que a sua empresa faz e quais são os comportamentos éticos que levam a bons resultados de negócio. Isso vai fazer toda a diferença, inclusive para comprovar o quanto o desenvolvimento dessas habilidades vai impactar. 


Como desenvolver habilidades que são tão pessoais?

Antes de tudo, é preciso entender que a nossa formação enquanto seres humanos e cidadãos é contínua. Nós vamos aprendendo com o nosso meio quais são as boas práticas, o que é ou não aceitável, e é importante que a partir desse aprendizado haja uma mudança.

Às vezes falamos que o caráter é algo inerente ao ser humano, mas o que faz a validação do que é bom ou não no caráter da pessoa é o contexto social. Se não há abertura para a mudança, não há evolução.

Para desenvolver essas habilidades existem 2 etapas importantes:

1º etapa

Fazer a liderança compreender que a mudança é algo bom e que é interessante valorizar a mudança de comportamento, visão e valores.

2º etapa

Fazer com que eles entendam que podem pedir ajuda para transformar certos valores e visões.

Para abordar essas conversas e incentivar o desenvolvimento dessas lideranças, a empresa precisa se preocupar em criar um ambiente seguro onde as pessoas se sintam confortáveis para falar.

O uso do canal de relatos e canal de escuta nas organizações é uma ótima ferramenta para medir a eficiência das ações implementadas. Com esse recurso, é possível medir a quantidade de relatos envolvendo pessoas no cargo de liderança e caso haja uma diminuição de relatos, isso pode ser um sinal de que as ações estão tendo o efeito esperado.


Qual o impacto da liderança ética no crescimento da empresa?

A empresa e a sociedade respondem a inputs sociais, logo a liderança precisa estar aberta para conversas e o RH precisa rever as suas estruturas, entendendo como inserir o tema de diversidade e inclusão em toda a jornada da pessoa colaboradora e garantindo que os processos sejam baseados em diversidade e ética.

Como a liderança é responsável por 70% da experiência dos colaboradores, ela interfere diretamente no bem-estar deles, o que reflete no sucesso da empresa. Pessoas infelizes tendem a ser pessoas improdutivas, que podem acabar se desligando da organização. Isso resulta em um problema de retenção, que gera gasto, afinal, é muito mais caro contratar uma nova pessoa do que cuidar da que já faz parte da empresa.

A eficiência é a palavra da vez e para ter eficiência é preciso que todos estejam engajados. Então, se a gente quer conectar um bom ambiente de trabalho com o sucesso da empresa, o caminho são pessoas felizes, satisfeitas e seguras. Incluir a diversidade e a ética no dia a dia e não apenas restringir a ações pontuais, com certeza terá um grande impacto no crescimento de uma empresa.


Veja também estes artigos:



Anterior
Anterior

Liderança e cultura organizacional: Qual o papel da liderança no desempenho do time e cultura da empresa?

Próximo
Próximo

Como desenvolver lideranças éticas nas empresas?