Dicionário da Diversidade: o que é gaslighting, gênero e gordofobia

o que é gaslighting gênero e gordofobia

Cada vez mais pessoas falam sobre Diversidade e Inclusão de pontos de vista diferentes, e a discussão chegou no mundo corporativo com força. Um novo mercado de D&I está se formando como reflexo dos avanços sociais que vivemos e estar por dentro desta mudança é necessário. 

Além da chegada das novas gerações, que trazem novos ideais para o cenário, movimentos como o #metoo e o #blacklivesmatter fomentaram esta discussão a nível global. Empresas começaram a entender que não existe mais espaço para culturas organizacionais não inclusivas, mas é essencial que a mudança venha de dentro para fora.

Assim como tudo que é novo e propõe desconstruções, é normal que dúvidas surjam. Práticas de Diversidade e Inclusão, por exemplo, trazem para o dia a dia alguns termos que não eram comumente usados. Pensando nisso, a SafeSpace criou o dicionário “Diversidade e Inclusão de A a Z”, que pode ser baixado neste link. Em um só material, você encontra várias definições que vão te ajudar neste aprendizado.

Por aqui, todo mês exploramos algumas palavras que estão por lá. Assim, além de saber seus significados, você pode entender suas aplicações na prática. Na edição de hoje trouxemos 2 termos que compõem a letra G do dicionário: gaslighting, gênero e gordofobia. Boa leitura!

Gaslighting

O termo gaslighting é usado para descrever uma forma de violência psicológica, na qual uma pessoa manipula a outra. A prática se dá quando uma pessoa cria constantemente inseguranças e dúvidas na outra, a partir de narrativas falsas que levam a pessoa a questionar seu julgamento e senso de realidade.

O termo teve origem no filme “Gas Light” (“À meia luz”, em português). No enredo, um marido que tenta convencer sua esposa de que ela está enlouquecendo. O personagem faz pequenas mudanças no ambiente da casa em que vivem, e inclusive na iluminação, para mexer com o psicológico da parceira. Quando ela percebe, ele nega e insiste que ela está criando coisas em sua cabeça.

Estar em uma situação de gaslighting pode causar ansiedade, depressão, vícios e outros problemas atrelados à saúde mental. Esse tipo de manipulação acontece por meio de uma variedade de ações, como mentir, distrair, minimizar, negar e culpar. Por isso, alguns sinais podem ajudar a pessoa vulnerável a reconhecer que está em uma relação abusiva:

  • Você constantemente duvida dos seus sentimentos e percepções da realidade;

  • Você tem medo e não gosta de se colocar, expressar opiniões;

  • Você começa a questionar suas verdades e “pisa em ovos” para não desencadear reações negativas nas pessoas;

  • Você pede desculpas com muita frequência, porque passa a achar que todos estão decepcionados.

Apesar de muito comum em relações amorosas abusivas, o gaslighting pode ser utilizado por qualquer pessoa para desestabilizar e exercer poder sobre a outra, como entre amizades ou familiares. No ambiente de trabalho, por exemplo, pode ocorrer quando uma pessoa líder leva alguém de sua equipe a acreditar que não tem competência para receber uma promoção.

Gênero

Ao falarmos sobre gênero, existem diferentes explicações e visões levantadas por estudiosos. Citando Maria Eunice Figueiredo Guedes, consiste em um grupo de indivíduos, objetos e ideias que possuem características em comum.

O gênero é um conceito central na organização das sociedades, e direciona as relações com base nas diferenças percebidas entre os sexos. É vinculado a construções sociais, e não naturais.Isso significa, em outras palavras, que o gênero não é determinado biologicamente. O conceito se refere ao que a sociedade entende como papel ou comportamento esperado atribuído ao sexo biológico de uma pessoa.

Essas construções, no entanto, podem ser problemáticas e sustentar estruturas machistas e misóginas - o que traz o problema para o mercado de trabalho. Para ilustrar, basta pensarmos em uma situação bastante comum. Em entrevistas de emprego, candidatas mulheres são frequentemente questionadas sobre filhos. Com quem as crianças serão deixadas durante o horário do trabalho?Esse tipo de pergunta é ultrapassada, uma vez que perpetua a ideia de que a mulher deve assumir o papel de cuidadora. A atribuição dessa expectativa ao gênero feminino, à ideia de “ser mulher”,  vai além do sexo biológico da pessoa.

Identidade de gênero

A discussão acerca de gênero precisa atravessar a discussão de identidade, e a pauta se faz cada vez mais presente nos dias de hoje. Muitas pessoas se identificam com um gênero diferente do que é imposto a elas em função de seu sexo biológico.É comum que as definições de gênero construídas pela sociedade entrem em conflito com a individualidade. Por isso, as identidades de gênero leva em consideração sentimentos e experiências pessoais da vida de uma pessoa: 

  • Cisgênero: a identidade de gênero é a mesma associada ao sexo biológico, determinado no momento de seu nascimento;

  • Transgênero: a identidade de gênero é diferente do sexo biológico;

  • Não-binário: neste caso, a pessoa não se enxerga em nenhum dos papéis associados a ideia de homem e mulher. A identidade de gênero não é a mesma atribuída ao seu sexo biológico, nem ao outro gênero. 

Gordofobia

Gordofobia  é o repúdio ou aversão preconceituosa a pessoas gordas, que pode ocorrer nos âmbitos afetivos, sociais e profissionais. 

Esse tipo de discriminação nega acessibilidade a corpos gordos de diversas formas no dia a dia, que compõem 57% da população brasileira. Comportamentos gordofóbicos geram situações constrangedoras e, até mesmo, humilhantes, que marginalizam socialmente pessoas gordas. São alguns casos comuns: 

  • A não existência de opções de tamanho em lojas de roupas;

  • Dificuldade em acessar e transitar pelo transporte público;

  • Não encontrar macas adequadas ou aparelhos de aferir pressão em hospitais;

  • Não ter equipamentos adequados no ambiente de trabalho, como cadeiras.



O problema da gordofobia não é recente, e está internalizado como um estigma nas estruturas da sociedade. Se olharmos para trás na linha do tempo, o corpo gordo já foi associado a erro, pecado e crime em diferentes momentos da história.

Em conversa com a revista Galileu, a nutricionista Paola Altheia falou sobre um problema extremamente comum: a noção de que pessoas gordas não são saudáveis, pelo simples fato de serem gordas. "A partir do momento em que as primeiras relações entre problemas de saúde e gordura corporal começaram a ser publicadas, o gordo passou a responder por tripla acusação: falta de formosura, falta de retidão de espírito e falta de capacidade para gerenciar a própria saúde”.

Há um termo para isso na chamada “sociologia da obesidade”: healthism (ou higiomania, em português). Trata-se de um julgamento moral sobre alguém, com base em sua saúde. Seguindo a lógica deste estudo, quem não é considerado saudável - ou faz coisas contrárias ao que é entendido como saudável - acaba sendo visto como uma pessoa ruim, com moral negativa.


 
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