Perguntas, respostas e provocações sobre Compliance com Giovani Ravagnani, head de Legal e Compliance na Buser

giovani ravagnani buser

No SafeSpace Convida deste mês, o papo foi com Giovani Ravagnani, head de Legal e Compliance da Buser. O convidado iniciou sua carreira como advogado em escritórios tradicionais e, depois de encarar algumas experiências, encontrou no Compliance o propósito de fazer a diferença nos ambientes de trabalho.

Ao longo da conversa, Giovani traz a perspectiva de um profissional da área sobre canais de denúncia corporativos, práticas de combate à má conduta, o avanço das legaltechs, e mais. Boa leitura!

Vamos começar falando sobre sua trajetória até aqui? Como você se tornou Head de Compliance na Buser?

Nunca pensei em trabalhar para empresas. Por 15 anos, construí minha carreira como advogado para trabalhar em escritórios de advocacia.  Até que parou de fazer sentido para a minha vida.

Hoje, consigo entender que o problema ia além dos desafios do trabalho. O ambiente do Direito é tradicionalmente tóxico, e te dá pouco espaço para respirar. Quando comecei a fazer a transição de carreira, buscava um lugar que me desse mais flexibilidade para trabalhar. 

Minha primeira experiência na área de Compliance foi na 99Jobs. Mais tarde, vim para a Buser e, atualmente, cuido dos departamentos Jurídico e de Compliance. 

Para mim, a missão é usar o Compliance para garantir que problemas de comportamento não se perpetuem no ambiente de trabalho. 

Fazer a coisa certa, garantir a integridade da companhia e, principalmente, preservar a cultura da empresa para que seja o melhor ambiente de trabalho para todas as pessoas.

Sempre ressaltamos a importância de um Compliance acessível, que consiga se comunicar com todas as áreas e pessoas de uma empresa. Você concorda com essa questão? Como a conversa entre Compliance e outras áreas pode ser efetiva?

O profissional de Compliance precisa saber quem é o seu público para entender como se comunicar. Em algumas empresas o tom precisa ser formal, em outras nem tanto.

Aqui na Buser, muitas pessoas nas equipes estão em começo de carreira, não tem tanta vivência corporativa, ou nunca tiveram contato com uma área de Compliance. Então, essa comunicação precisa ser simples o suficiente para passar adiante a mensagem que o Compliance quer - desde treinamentos até os materiais gráficos internos.

O nosso Código de Ética é mais uma cartilha de comportamentos, e menos uma Constituição, cheia de leis complexas e regras. Acho que é assim que se inicia a tradução do Compliance para uma linguagem mais palatável.

Implementar um Canal de Denúncias e Escuta é uma das formas de mitigar riscos para a organização - seja com processos trabalhistas, prejuízos financeiros, danos à reputação. Com a experiência que você tem até aqui, quais práticas considera importantes para incentivar o uso da ferramenta?

É importante dar à pessoa relatante a sensação de que ela está protegida e inserida em um ambiente seguro. Afinal, ela está fazendo algo bom para a empresa.

Eu vejo o anonimato como peça fundamental para guiar qualquer tipo de canal de denúncias. É uma forma de garantir à pessoa que ela não vai sofrer nenhum tipo de retaliação durante o curso da apuração.

Além disso, um Comitê de Ética só vai funcionar e dar suporte aos relatos se tiver diversidade em sua composição. Isso possibilita uma condução efetiva das investigações. 

Se pegarmos como exemplo as minhas experiências em escritórios de advocacia, 95% das lideranças eram iguais a mim: homens brancos, heterossexuais, de classe média alta. Trazer olhares, bagagens e outras versões de vida é o caminho para construir boas práticas de Compliance em qualquer empresa.

Por fim, é preciso trabalhar com seriedade. A cultura de Compliance só é construída com um tratamento adequado aos casos. Assim, os times vão entender quais são as referências de comportamento e quem dita o exemplo no ambiente de trabalho.

No mercado de trabalho, algumas condutas como o assédio sempre existiram e são problemas estruturais. As discussões acerca dessas condutas finalmente estão em pauta. Você acredita que o papel do profissional de Compliance está mudando para acompanhar esse movimento? Para os dias atuais, quais habilidades você considera inegociáveis para alguém que atua na área?

O profissional de Compliance muda de acordo com o que o Conselho da empresa demanda, e com o que a sociedade demanda. É preciso estar alinhado com esse movimento para direcionar o trabalho da área.

O destaque está na questão comportamental nas empresas, que rejeita condutas como racismo, homofobia e machismo. Hoje, é o que está em foco para a imprensa, os investidores e os acionistas das organizações.

Na Buser, o Compliance precisa ter muita atenção a problemas que existem, historicamente, no mercado de transporte rodoviário: corrupção, fraude e licitação. Ao mesmo tempo, acreditamos que uma empresa se faz com pessoas. Criar um ambiente favorável para promover a inclusão  também deve ser uma missão da área.

Diria também que é inegociável ter senso de justiça. Afinal, o profissional de Compliance precisa ser referência na empresa, ditar o tom das condutas internas.

As legaltechs têm ganhado cada vez mais espaço, trazendo soluções para diversas frentes do setor. Como o trabalho do Compliance nas empresas pode se beneficiar do avanço da tecnologia?

Pensando em tecnologia, eu acredito que ter um Canal de Denúncias em que as pessoas realmente se sintam seguras é uma peça fundamental do programa de Compliance. Criar esse ambiente de confiança é um oceano azul para toda e qualquer empresa.

A possibilidade de uma legaltech trazer imparcialidade para o processo de denúncias como um todo é muito importante para o trabalho da área. Quando eu olho para a plataforma da SafeSpace, eu vejo a possibilidade de anonimato e diferentes layers para distribuição das demandas internas. Mas a efetividade não depende só da plataforma. 

Por fim, indica para a gente algum material que toda pessoa profissional de Compliance deveria consumir? Pode ser um podcast, livro, filme…

Indico o podcast Rádio Escafandro, do jornalista Tomás Chiaverini. Os episódios saem quinzenalmente e tecem narrativas sobre assuntos pontuais. São histórias bizarras e, na minha visão, é preciso estar com o senso de justiça aguçado.

podcast rádio escafandro

A depender do lado que você escolher ao longo dos temas, claramente você não deveria ser um profissional de Compliance. Não vou dizer qual o lado. Mas penso assim. 


 
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