Como dialogar sobre casos de assédio sexual de forma inteligente

Cérebro levantando peso assédio sexual
 

Casos de assédio acontecem com frequência e em todos os tipos de espaço, porém o ambiente de trabalho torna-se um dos maiores alvos. Parte da explicação é composta pelo fato de que passamos grande parte dos dias e horas da semana em contato com as pessoas que trabalham conosco.

Ainda assim, existe um grande estigma social atrelado ao tema e por isso, quando vêm à tona, situações de assédio costumam instigar vários questionamentos do público, tanto em relação à vítima quanto à pessoa assediadora. Apesar de comuns, muitos desses questionamentos não fazem sentido e acabam dificultando ainda mais a resolução desse problema, que é estrutural.

 
Duas cadeiras afastadas assédio sexual
 

Vamos desconstruir alguns desses questionamentos? 

1.“Ah, mas então porque demorou para relatar”

  1. Relatar um caso de assédio exige coragem, exatamente pelo histórico de tantas vítimas que foram hostilizadas. Além disso, por se tratar de um problema estrutural e pouco debatido, nem todas as situações desagradáveis se apresentam para a vítima de forma explícita como assédio sexual.

    Prefira questionar: Por que essa pessoa só conseguiu relatar agora? Quais foram os obstáculos que ela enfrentou para chegar lá?

Cacto em um cone com espinhos assédio sexual

2. “Ah, mas eles eram amigos”

Amizade não é um "álibi" para casos de assédio. A pessoa assediadora pode agir de forma abusiva e simultaneamente ser simpática, amigável. 

Vale ressaltar que muitas vezes os casos de assédio envolvem pessoas que são próximas, como familiares, colegas de trabalho, professores e professoras. Com mais precisão 84,1% dos casos de assédio levam o nome de uma pessoa muito próxima à vítima como acusada.

Prefira questionar "Por que a maior parte dos casos de assédio acontecem entre pessoas que mantinham uma relação? Como que a relação de poder entre essas pessoas contribuiu para o problema?"



 

3. "Ah, mas ela quer chamar atenção"

  1. ‘Expor um caso de assédio é muito difícil e pode ter um impacto psicológico grande. A maioria das pessoas sente vergonha e medo. Por isso, não faria sentido nenhum se expor com esse objetivo. 


    Vemos acontecer com frequência o movimento de acusações seguidas quando uma das vítimas quebra o silêncio e decide falar. O primeiro caso é amplamente contestado mas conforme outras pessoas relatam já terem vivido a mesma situação, o sentimento é compartilhado e todas as vítimas se sentem empoderadas a também falar.


    Prefira questionar: Por que muitas pessoas só são ouvidas quando relatam de forma pública ou quando outras já relataram?"

 
Nuvem em fundo colorido assédio sexual
 

Agora, vamos construir!

Para uma pessoa que vivenciou um caso de assédio sexual consiga relatá-lo com confiança dentro de uma empresa, é necessário que exista um espaço acolhedor com políticas explícitas sobre como a empresa age diante de situações como essa. 

Muito mais do que um canal de escuta, as empresas precisam instruir seus setores de RH e Compliance a se aliarem e criarem estratégias que deem suporte verdadeiro as vítimas, como um código de conduta em união a uma cultura aberta a falar sobre como lidar com situações de má conduta . Portanto, sempre que surgir algum tipo de questionamento diante de um caso de assédio, analise qual era o contexto em que a vítima estava envolvida e se as ferramentas necessárias estavam disponíveis para que ela lidasse com o episódio.

 
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