O assédio sexual no modelo de trabalho remoto existe, e é preciso combatê-lo
A pandemia forçou mudanças em empresas de todo o mundo. O modelo de trabalho remoto passou a ser uma realidade global e, com ele, veio a ilusão de que alguns problemas do convívio diário em escritório seriam resolvidos pela distância.
Existem problemas de comportamento em todos os espaços, sejam eles profissionais ou não. Mas os desvios de conduta no ambiente de trabalho têm como raiz as relações de poder e, dessa forma, quando muitas pessoas passaram a cumprir suas funções virtualmente, trouxeram para dentro de suas casas as situações de constrangimento também.
Além disso, o cenário online rompe algumas barreiras que existem no espaço físico de trabalho, caracterizando-se pela ausência de testemunhas ou autoridades, e pela sensação de impunidade. Seja por telefone, e-mail, videoconferência ou apps de mensagem, o assédio sexual no modelo de trabalho remoto é uma questão latente dentro das organizações e é preciso combatê-lo ativamente.
Como identificar um caso de assédio sexual?
O Código Penal define assédio como “constranger alguém, com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função”.
Não à toa, as pessoas mais denunciadas por assédio no Brasil ao longo de 2020 foram pessoas em cargos de gestão (62,4%) ou clientes (17,8%), de acordo com levantamento divulgado pelo Valor.
Em outras palavras, trata-se de uma violação da liberdade sexual de alguém. Qualquer comportamento indesejado de cunho sexual que tem como objetivo perturbar, constranger, humilhar ou intimidar uma pessoa é considerado assédio sexual.
No ambiente de trabalho, a prática geralmente se dá pelo envio de e-mails, mensagens ou bilhetes sugestivos, compartilhamento de imagens ou vídeos inapropriados, perguntas desconfortáveis sobre a orientação sexual ou comentários sobre o corpo do outro.
Fechar o olho para o problema pode custar muito caro
Ainda que seja um tema delicado, cercado de estigmas, já existe um movimento claro de mudança na forma como esse tipo de violação é abordada pelas empresas. Cada vez mais, as vítimas de assédio têm buscado os meios digitais para vir à público com seus relatos, dando à audiência manchetes escandalosas com grandes nomes do mercado.
Organizações devem tomar medidas proativas para encarar o problema internamente, entendendo que é uma realidade enraizada na nossa sociedade. Além de interferir na carreira e na saúde física e psicológica da pessoa colaboradora, casos de assédio trazem custos com retenção de equipe, queda de produtividade e danos à reputação da empresa. Isso sem mencionar indenizações, processos trabalhistas e acordos de não divulgação, que chegam a valores altíssimos.
A Think Eva, consultoria de inovação social, em parceria com o LinkedIn, ouviu 381 mulheres usuárias de internet no Brasil e trouxe números que sustentam a realidade aqui no país:
A tendência, no entanto, é que o número de relatos aumente, uma vez que uma vítima que escolhe se manifestar abre as portas para que outras façam o mesmo e quebrem o silêncio e medo enraizados no mercado de trabalho.
Um exemplo recente disso é o da gigante americana Tesla. Jessica Brooks, ex-colaboradora da empresa, entrou com um processo acusando a empresa de não ter levado a sério suas denúncias de assédio sexual contra um colega de trabalho. Em seguida, outras 6 mulheres vieram a frente alegando terem sofrido situações da mesma natureza.
Os números provam: é preciso agir proativamente
Em uma pesquisa conduzida pela AllVoices, em parceria com a CrunchBase, 822 americanos foram questionados a respeito de casos de assédio sexual no trabalho. Dos entrevistados:
38% sofreram assédio no trabalho remoto, através de e-mail, videoconferência, apps de chat ou ligação de telefone. Em adição a isso, 24% acreditam que o assédio piorou neste cenário à distância;
18% não relataram os casos de assédio que sofreram por medo de retaliação, de nada ser feito a respeito ou de não serem levados a sério;
85% escolheriam relatar casos de assédio anonimamente, e se sentiriam mais seguros e incentivados se existisse uma plataforma ou ferramenta com essa opção;
28% dizem que suas empresas não encorajam as equipes a falar sobre assédio.
Como combater o assédio sexual dentro da sua empresa
Proteja as equipes de qualquer tipo de retaliação
Já é difícil abordar temas sensíveis e relatar casos de assédio sem que haja constrangimento por parte das vítimas. Quando a carreira das pessoas está em jogo, a situação pode ser ainda pior.
É importante que a empresa deixe claro seu posicionamento em relação à proteção e acolhimento das pessoas colaboradoras, garantindo que não existe possibilidade de retaliação. Mas, para isso, é preciso implementar políticas sérias.
Crie uma política interna de confiança
Antes de qualquer relato, a pessoa colaboradora precisa ter certeza que aquela questão será levada a sério, investigada e, no melhor cenário, resolvida. As políticas da empresa relacionadas a desvios de conduta devem ser muito bem definidas e disseminadas no ambiente de trabalho, incluindo o compromisso da organização com as medidas a serem tomadas.
Permita relatos anônimos e/ou condicionais
Como já falamos nesse post, é mais provável que pessoas colaboradoras relatem casos de assédio sexual se houver a opção de anonimato. Garantir ferramentas para que essas vítimas possam ter um canal seguro e ético torna a experiência da manifestação muito mais fácil.
A plataforma da SafeSpace oferece a opção de criar relatos 100% anônimos, assim como um chat em tempo real que conecta a vítima às pessoas responsáveis pela apuração.
Além disso, existe o Connect, funcionalidade na qual a pessoa colaboradora escolhe deixar seu relato on hold. Neste caso, o relato só é enviado para o administrador caso seja feita outra denúncia contra a mesma pessoa.
Enviar um relato sob a condição de fazer parte de um padrão é uma forma alternativa de proteger as pessoas envolvidas. Além de ajudar a empresa a detectar riscos de forma mais ágil, o envio com Connect também ajuda a contornar o anonimato, o que torna o processo de mediação e/ou investigação mais fácil.