Comunicação Inclusiva ou Linguagem Neutra? Entenda a diferença e porque sua empresa deve acompanhar o movimento

O processo de comunicação talvez seja o fenômeno mais importante da vida em sociedade. Se partirmos de uma ótica histórica, abrindo a linha do tempo, é fácil enxergar a linguagem humana como viva, contínua e que se transforma para acompanhar as demandas da evolução social.

É, ainda, a habilidade de destaque quando comparamos seres humanos e outros animais. Por meio dela, nos expressamos, aprendemos, criamos e informamos. O ato de comunicar é o que nos permite conviver em grupos e organizar em sociedade.

Destrinchando o termo comunicação, nada mais é do que o ato de transmitir uma mensagem. Já a linguagem é o conjunto de sinais que usamos para isso. O que falamos reproduz uma ideia. Como falamos causa impacto às pessoas ao nosso redor.

O que significa comunicação inclusiva?

Inicialmente, a comunicação inclusiva era pensada para suprir a necessidade de uma comunicação não-verbal, ou seja, incluir pessoas surdas, mudas ou com outras deficiências. O propósito continua sendo o mesmo: a inclusão. Mas a ideia se expandiu e, hoje, assume o papel revolucionário de garantir e promover acessibilidade por meio de diferentes recursos da linguagem.

Apesar do termo já existir há anos, o debate acerca dele é bem recente e cada vez mais presente e relevante, inclusive no mundo corporativo. Por isso, é normal ainda existirem muitas dúvidas em relação ao uso.

A SafeSpace preparou o Guia de Comunicação Inclusiva voltado para representantes de RH e Compliance de empresas levarem essa reflexão adiante e começar a aplicar mudanças na forma de se comunicar. Ao longo do conteúdo, quem estiver lendo, encontra boas práticas para adaptar a comunicação no dia a dia corporativo (e até fora do trabalho). A ideia principal é adaptar a comunicação para respeitar a diversidade etnicorracial, cultural, de condição e de gênero.

Para ir mais a fundo: o que é a Linguagem Neutra

A língua portuguesa, assim como outros idiomas provenientes do latim, é estruturalmente binária, ou seja, possui fortes definições de feminino e masculino. Nossa fala é, em grande parte do problema, responsável por reproduzir essa divisão retrógrada de “para homens” e “para mulheres” — o que reforça o sexismo e exclui pessoas não-binárias.

Embaixo do guarda-chuva de comunicação inclusiva, a linguagem neutra aparece como alternativa para a não designação de gênero. Dessa forma, avançamos alguns passos para a inclusão  de todas as pessoas da nossa sociedade, contemplando as múltiplas identidades que existem.

Além disso, podemos afirmar que o Português ajuda a reproduzir vieses machistas. Se temos uma mesa de reunião com 3 mulheres e 1 homem, são 4 executivos. Em uma vaga para processo seletivo, contrata-se 1 coordenador. Percebe como deixamos de fora as pessoas que não se identificam com esse gênero? E não é apenas um ‘mero detalhe’ quando a tradução das linhas para a vida real reproduz a mesma lógica: nossas mentes ainda são condicionadas a colocar pessoas do sexo masculino em um lugar de privilégio.

O tema se faz presente em discussões fervorosas acerca do uso da linguagem neutra nas redes sociais, e também entre linguistas da academia. E mesmo que ainda não seja reconhecido como norma da língua portuguesa, é uma iniciativa importante que as organizações devem acompanhar. Afinal, a comunicação deve estar a serviço das pessoas, e não de normas formais.

Não é necessário ir longe para dar os primeiros passos e começar a usar a linguagem neutra na comunicação da sua empresa. Tem uma palavra bem familiar  em nosso vocabulário que pode ajudar: pessoas. Aqui vão alguns exemplos fáceis, que podem ser aplicados no dia a dia sem nenhuma dificuldade:

  • Pessoas colaboradoras

  • Pessoas LGBTQIA+

  • Pessoas candidatas

A língua portuguesa tem, ainda, alguns termos coletivos que podem ser aproveitados para garantir neutralidade na fala. Ao falar de seus líderes, prefira se referir à liderança. Pense na gestão, ao invés de nos gestores. Seus colaboradores são um time, ou equipe.

Trouxemos uma cola do Guia de Comunicação Inclusiva para ilustrar o quão fácil é transmitir a mesma ideia usando palavras inclusivas.

Seguindo essa ótica de neutralidade, foram criados sistemas que abarcam a comunicação de forma completa. Um deles, que está entre os mais utilizados, é o ELU. Neste caso, o U é usado para substituir a terminação de pronomes que indicam gênero. Já para palavras terminadas em A ou O, utiliza-se E. Veja só: 

  • Ele —- Elu

  • Dela —- Delu

  • Bonita —- Bonite

  • Coordenadores —- Coordenadories (caso específico: quando palavras terminadas em “e” indicam gênero masculino, usamos IE)

Outro sistema bastante adotado para adaptar pronomes é ILE/DILE. Pode-se traçar uma comparação aos termos they/them, do inglês.



Alguns tropeços podem surgir no caminho

É importante ter em mente que a língua está sempre em movimento. Isso significa que o aprendizado é constante, e leva um tempo para que “novas” formas de comunicação caiam em uso natural. Não é simples mudar algo estrutural, que nos ensinam desde sempre. Portanto, é importante reforçar: existe espaço para errar.

A mudança é gradual e aparece pouco a pouco na forma que escrevemos, falamos e percebemos o mundo à nossa volta. Quanto mais praticarmos, melhor.

Aliás, tem aquele ditado que diz que só se aprende errando. Para provocar essa reflexão, separamos um caso de comunicação que pode até ganhar pontos pela iniciativa, mas não é tão inclusivo assim.

Surgiram nas redes, algumas marcas usando X ou @ para neutralizar a comunicação. Essa prática, no entanto, não funciona quando falamos em acessibilidade.

A comunicação se torna falha, não apenas na hora de pronunciar essas palavras, mas também na leitura feita por softwares voltados para pessoas com deficiência visual. É importante ressaltar ainda, a dificuldade de compreensão por parte de pessoas neurodiversas


O debate chegou ao mundo corporativo. Por que minha empresa precisa se adaptar?

Por aqui, na SafeSpace, batemos incansavelmente na tecla: sua empresa precisa voltar esforços para Diversidade e Inclusão.

Com a pauta de comunicação inclusiva cada vez mais presente, o público pede posicionamento das empresas. É claro que a preocupação com a reputação da marca é importante, e deve ser levada em consideração por organizações que buscam se destacar no mercado. Mas não basta falarmos de diversidade por fora, se não cuidarmos da inclusão dentro do ambiente de trabalho.

As pessoas colaboradoras podem ser as principais defensoras da marca. Afinal, são elas que materializam os valores de uma empresa. Revisitar a noção de reputação com o olhar de employer branding reforça a importância de se criar uma cultura interna de segurança.

Passamos grande parte da nossa vida dentro do ambiente de trabalho. É essencial que, ali, todas as pessoas se sintam acolhidas e pertencentes, independente das diferentes bagagens que trazem. Os benefícios de voltar esforços para a inclusão dentro de uma empresa vão além do bem estar individual e refletem no negócio em si. 

Estudos da BCG, divulgados pela Forbes em 2018, trazem dados relevantes para provar que equipes diversas têm maior capacidade de inovação, uma vez que encontram soluções não convencionais para os problemas. Assim, aumentam a probabilidade de seus produtos e serviços alavancarem.

Além disso, a tendência é que a competição pelos melhores talentos do mercado aumente cada vez mais. É fácil enxergar por que sua empresa deve se tornar um bom lugar para se trabalhar, certo?

Por fim, vale a provocação: por que não evoluir em questões tão importantes para a sociedade? Hoje, com tanto acesso a informação, não caminhar para um cenário mais diverso e inclusivo é escolher estar atrasado.

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