Assédio no trabalho remoto: um problema ainda maior?
Em um primeiro momento, parece lógico que trabalhar de casa viria a diminuir o risco de casos de assédio e comportamento tóxico no ambiente de trabalho. Afinal, foram suspensas as obrigações de encontros sociais no escritório, viagens de negócios e reuniões presenciais. No entanto, o que vemos acontecer é o contrário: as incertezas da crise acabaram alimentando tensões nas relações de trabalho e as mudanças no ambiente de trabalho simplesmente deslocaram incidentes de má conduta para o âmbito digital.
Assédio no ambiente virtual
Como mostram estudos recentes, casos de assédio parecem surgir com mais frequência no âmbito virtual. A comunicação virtual dá um grau de anonimato e proteção que pode levar as pessoas a agir de maneiras que não fariam pessoalmente - do mesmo jeito que pessoas se escondem atrás de perfis nas redes sociais para praticar cyberbullying. Outro ponto é que a intimidação feita por meio de canais de comunicação digitais é muito mais difícil de ser monitorada pela área de RH e de Compliance das empresas. Por exemplo, é muito mais fácil excluir ou intimidar pessoas em reuniões feitas por chamadas de vídeo - do que um escritório na frente de outras pessoas.
A mudança para o trabalho remoto também significa que a divisão entre casa e trabalho, vida pessoal e vida profissional ficou menos clara. As pessoas agora acabam expondo muito mais da sua intimidade para colegas, clientes e fornecedores já que estamos todos fazendo vídeo chamada sentados na sala e na cozinha de casa, muitas vezes com familiares ao redor. Isso faz com que as pessoas baixem a guarda e serem mais informais - o que pode levar à situações desconfortáveis e inadequadas.
Aumento de tensão e stress
Além disso, as condições estressantes da pandemia aumentou tensão entre relações de trabalho, o que consequentemente aumenta o risco das pessoas fazerem comentários agressivos e inapropriados, seja pelo telefone, vídeo chamada, por canais digitais como Slack ou Whatsapp ou por e-mail. De acordo com dados do Governo dos EUA, a taxa de aumento de casos de assédio no trabalho foi quatro vezes maior durante a recessão econômica de 2008 do que nas décadas anteriores.
Isso nos mostra que casos de assédio acontecem com mais frequência quando as pessoas estão se sentindo inseguras e hoje, com a crise gerada pela pandemia do COVID-19 todos nós estamos nos sentindo mais vulneráveis. Empregos que foram perdidos podem nunca mais voltar porque empresas estão fechando as portas e decretando falência. As pessoas que permaneceram empregadas ainda sim estão preocupadas com a sua estabilidade financeira e com a saúde física e mental de familiares e amigos. Para quem tem filhos, tem o stress acumulado por conta das escolas fechadas. Considerando tudo isso, é compreensível que as pessoas estejam mais ariscas nesse período.
O que as empresas devem fazer diante desse cenário
Líderes da área de pessoas e de compliance devem prestar bastante atenção nessas mudanças. Com muitas pessoas trabalhando de casa e eventualmente a transição de algumas de volta para o escritório, as empresas terão que priorizar o monitoramento de comportamentos inadequados e relações de tensão entre pessoas colaboradoras. Para isso é preciso oferecer um espaço no qual as pessoas se sintam seguras para se manifestar sobre incômodos que sentem. Além disso, é necessário aprimorar processos internos de investigação para assegurar a resolução de casos internamente. Caso contrário, o risco de sofrer danos irreversíveis à reputação e um impacto negativo na cultura da empresa tende a aumentar.
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