Perguntas, respostas e provocações sobre diversidade e inclusão com Samuel Emilio
Artigo publicado em 28/10/2021
Neste Guest Space, você irá aprender sobre Diversidade e Inclusão com um pouco da história e concepções de Samuel Emílio, o Samuca para pessoas mais próximas. Como participante ativo de ações no terceiro setor, palestrante TEDx, Fellow no Programa Pró Líder e Co-fundador da Plataforma Engaja Negritude, Samuel ajuda a inovar e revolucionar o contexto social que hoje é muito desigual. Vem cá conferir essa história com a gente.
Você pode nos contar um pouco da sua trajetória até aqui? Quem é o Samuel?
Nasci no interior de Minas, na periferia de Ipatinga. Tive a sorte de nascer em uma família que me deu muito amor, especialmente durante a minha primeira infância, e não tenho dúvidas de que isso foi um grande diferencial. Isso porque, apesar de ter nascido numa situação financeira muito vulnerável, a atenção necessária para me desenvolver sempre esteve presente. Assim consegui bolsas de estudo em boas escolas.
Cursar faculdade pública de Engenharia foi o que me fez vir para São Paulo. Por aqui, trabalhei no terceiro setor durante mais de um ano. Nessa mesma época, morei em uma ONG chamada Educafro enquanto trabalhava com promoção de equidade racial.
Minha trajetória profissional teve continuidade no terceiro setor quando trabalhei na construção de um movimento para renovação política chamado ‘eu acredito’. Em seguida, fui trabalhar como Coordenador de Diversidade e Inclusão no segundo setor em uma consultoria de cultura organizacional chamada Tribo. Dali optei por experienciar a política novamente quando me candidatei a vereador nas eleições de São Paulo. Atualmente, trabalho em um fundo filantrópico que investe e doa para empresas e ONGS trabalharem revolucionando o sistema educacional brasileiro além de ser Fellow no Programa ProLider.
Como você acredita que o seu trabalho com Diversidade e Inclusão transforma o mundo em um lugar melhor?
Enxergo que o sistema social em que a gente vive, está perfeitamente desenhado para produzir os resultados que produz. De forma bem direta, esses resultados acontecem por meio da desigualdade, exclusão e exploração.
Se queremos construir um mundo em que as pessoas se sintam mais pertencentes, sintam que a identidade delas é realmente respeitada, independente de qual sejam e sintam-se auto confiantes, não adianta tentar pequenas transformações para melhorar esse sistema atual. Afinal, ele está perfeitamente desenhado para reproduzir desigualdades.
Portanto entendo como necessário a construção de um novo sistema ou ainda uma nova sociedade com base em novos modelos mentais, de participação e pertencimento. Trabalhar diversidade e inclusão é exatamente isso: criar uma nova sociedade em que todas as pessoas, independente de quem são, se sintam incluídas e ativamente participantes da construção desse novo sistema. Meu objetivo é que essa inovação promova justiça social ao invés de exclusão e assim acredito que esse trabalho transforme o mundo num lugar melhor.
Usando as suas palavras, como você explica Diversidade e Inclusão no mercado de trabalho e sua importância?
O mercado de trabalho está dentro desse sistema social maior em que vivemos. Não consigo separar as ‘empresas’ do ‘resto da sociedade’. A forma como organizamos e estruturamos empresas é um fractal, muito similar a forma como nós organizamos estrutura política. Da mesma forma que é também similar a como estruturamos o setor de filantropia, as ONGS. Então entendo que o desafio ‘diversidade e inclusão’ não é exclusividade do mercado, trata-se de um desafio da sociedade.
Um ponto que encaro é que empresas com capital tem um poder muito grande de fazer transformações e isso naturalmente faz com que as responsabilidades dessas organizações sejam ainda maiores nas definições dos rumos da nossa sociedade. Portanto, quando olho para a importância do trabalho de diversidade e inclusão no meio político, em empresas e em ONGS, vejo muito valor.
Acredito que as empresas estão se debruçando sobre esse tema de forma autêntica, honesta e corajosa pois é um tema desafiador e que, ao mesmo tempo, pode levar essas organizações para um novo patamar. A renovação dos espaços de trabalho, estabelecem esse novo patamar de convivência entre os colaboradores, o que reduz ansiedade, estresse, aumenta o engajamento, o senso de pertencimento dentre tantos outros benefícios. Mas acima de tudo, um avanço social de forma que todas as pessoas tenham oportunidade para prosperar.
Samuel, as pessoas que mais sofreram com o desemprego na pandemia foram as mulheres negras. Com base nisso, é possível afirmar que o mercado de trabalho está realmente avançando em inclusão? Como as empresas podem agilizar a mudança desse cenário?
Para agilizar essa mudança, as empresas precisam reconhecer que, como em qualquer transição ou mudança, existe um custo de tempo, talento, energia e até um custo financeiro. Portanto é necessário assumir essas necessidades, fazer uma reserva orçamentária, direcionar as pessoas certas, reservar time etc. Acionistas precisam concordar e pensar de forma estratégica uma vez que, a curto prazo o lucro talvez não venha, mas a longo prazo os benefícios são ainda maiores.
Além disso, as organizações podem fazer escolhas melhores e mais corajosas. Hoje vejo mudanças incrementais como pequenos grupos de pessoas negras sem poder de tomada de decisão e sem recursos para trabalhar e se desenvolver. Montam essa estrutura, chamam isso de coletivo, pouca coisa muda de verdade.
Vejo que a sociedade está avançando, está seguindo o caminho dela e o mercado está tentando acompanhar, mas ainda estamos longe de comemorar qualquer coisa. Ao invés de apenas nos perguntarmos se estamos avançando de fato, deveríamos investir esse tempo em buscar mais ações para realmente mudar as coisas.
Você gostaria de indicar algum material sobre diversidade e inclusão e antirracismo para nosso público?
Youtube: Diário antirracistas, tem 30 vídeos
Projeto GOMA no Facebook, é um programa de mentoria para pessoas negras e não negras no mercado de trabalho. É gratuito e tem vídeos de ótima qualidade.
