Inclusão de A a Z: o que é 'ação afirmativa' e 'apropriação cultural'?

Recentemente, você ouviu alguma pessoa falando sobre Diversidade e Inclusão? Se a resposta for positiva, tenha certeza que você não é a única. Um novo mercado de Diversidade e Inclusão está se formando graças aos avanços sociais que estamos vivendo. 

Após movimento como o #metoo e o #blacklivematters surgirem, as empresas começaram a entender  que não existe mais espaço para culturas organizacionais desalinhadas com o  avanço social. A chegada de novas gerações no mercado de trabalho trouxe novos ideais, tornando o cenário ainda mais positivo para o desenvolvimento de estratégias de inclusão.

Quando falamos de um novo cenário, é normal  que muitas dúvidas surjam. Pautas de diversidade e inclusão, por exemplo, trazem além de novas reflexões, termos que não eram comumente usados. Se você acompanha a SafeSpace há algum tempo, deve saber que criamos um dicionário para te ajudar com essa missão, chamado “Diversidade e Inclusão de A a Z” e que você pode baixar gratuitamente neste link aqui. E para complementar os aprendizados que o glossário trouxe, todo mês vamos explorar algumas palavras que estão por lá. Assim, além de saber seus significados, você poderá entender novos conceitos na prática. 

Na edição de hoje trouxemos alguns termos que compõem a letra A do dicionário: ação afirmativa e apropriação cultural. Vamos lá?


 
Sequência de picolés enfileirados, todos com uma mordida
 

Ação Afirmativa

Não é segredo que o nosso país ainda reproduz um contexto histórico de discriminação com determinados grupos sociais, como pessoas negras, indígenas, com deficiência, pessoas transgênero, obesas e por aí vai. Para ser mais exata, durante muito tempo não vimos a História retratar de forma positiva nenhum destes grupos e muitos deles acabaram sendo deixados de lado nas estratégias de crescimento econômico ou até mesmo no mundo das artes. Quer ver alguns exemplos?

  • Canais antigos de publicidade estampavam apenas pessoas consideradas “comuns” e “normais” em suas capas. Raramente se via pessoas negras, com deficiências ou obesas;

  • Os bairros mais ricos das cidades contavam (e contam ainda) com a presença, quase unânime, apenas de pessoas brancas;

  • O quadro de pessoas políticas que compõem a administração do nosso país sempre foi majoritariamente composto por homens brancos heterossexuais;

  • Da lista de pessoas mais ricas, pouquíssimas são mulheres e ainda menos são negras.

Na prática: como corrigimos essa dívida histórica? 

Uma ação afirmativa é qualquer tipo de medida especial voltada para a inclusão de grupos sub representados em um espaço. Estas medidas podem partir da iniciativa pública ou privada. Mas como funciona na prática?

A premissa básica das ações afirmativas é promover igualdade de acesso a oportunidades com a tentativa de reparar nosso contexto histórico que por muito tempo desconsiderou esses recortes sociais. O que nos cabe entender é que essas ações têm como principal objetivo diminuir a diferença estrutural, social ou econômica, que existe em nosso país. Elas permitem, ainda que de forma reduzida, que os caminhos percorridos por indivíduos de determinados grupos sejam frutos de sua escolha, e não de suas circunstâncias. As ações afirmativas abarcam a promoção dos direitos civis, a emancipação material e a valorização do patrimônio cultural.



Três peças de quebra-cabeça encaixadas com uma desencaixada

Quais são os tipos de ações afirmativas?

É até complicado definir ao certo quais são os tipos de ações afirmativas porque o universo de estratégias para elas é muito amplo. Sem contar na quantidade de grupos sub representados que lutam por direitos equitativos e inclusão. Mas vamos deixar alguns exemplos:

  • Bolsas e auxílio para moradia, estudo e alimentação;

  • Vagas prioritárias em programas de habitação;

  • Oferta de vagas em creches;

  • Redistribuição de terras e territórios;

  • Cotas em diversos níveis de ensino e concursos públicos;

  • Processos seletivos exclusivos;

  • Metas mínimas de participação na imprensa ou governança;




Exemplos do dia a dia

O programa de contratação de trainees do Magazine Luiza, voltado exclusivamente para a contratação de pessoas negras, é um bom exemplo de ação afirmativa aplicada na prática de uma organização. Com este programa, a empresa visa a contratação de profissionais sub representados e excluídos da alta liderança de empresas. Afinal, qual foi o número de líderes negros que você teve em toda sua trajetória profissional? 

O Magazine Luiza entende que a maior parte da população brasileira pertencente às classes C, D e E são pessoas negras. Para se ter uma dimensão do contraste, 70% das pessoas que vivem em favelas no Brasil, são negras. Oferecer a oportunidade destas pessoas estarem em cargos hierárquicos mais altos e, consequentemente com um salário maior, é uma boa estratégia para a ascensão econômica de suas famílias.

O programa foi aclamado por muitas pessoas e recebeu duras críticas de outras, na época. A verdade é que tratou-se de uma ação afirmativa dentro dos aspectos legais para diminuir a desigualdade racial no país e aumentar os índices de inclusão. Magazine Luiza acertou e, neste caso, não se pode falar de exclusão de outras etnias, como pessoas brancas, uma vez que o cenário já favorece este grupo desde sempre.

 
Pessoas diversas segurando as mãos
 

Apropriação Cultural

Apropriação cultural é o ato de se apropriar de elementos de outras culturas que não sejam a sua . É importante reforçar que existe um fator determinante para se enquadrar em apropriação: o uso de aspectos de outra cultura, vindo de pessoas de uma cultura dominante, que desconsideram o contexto histórico existente. Ainda parece confuso? Vamos lá.

Aprendemos sobre a história da colonização na escola. Alguns governos europeus invadiram outros países ao redor do mundo e impuseram seus idiomas, religiões e gostos. Além de escravizar povos originários e se motivarem ao embranquecimento populacional. Quando isso aconteceu, muitas culturas realmente foram atacadas, mas elas resistiram, como é o caso da cultura indígena em diversos países das Américas ou dos povos Africanos trazidos para o Brasil. 

Hoje, após tantos anos das invasões perdurarem, muitas culturas ainda resistem. Acontece que esta resistência sobrevive as duras penas de muita discriminação. Um exemplo prático são os ataques mostrados na mídia a templos e terreiros que pregam religiões de matrizes africanas, vindos de pessoas cristãs. Na história do mercado de trabalho também não faltam exemplos de discriminação cultural, como é o caso vivido por pessoas que não puderam usar cabelo black ou tranças afro em seus empregos, ou amuletos religiosos como guias.

A apropriação cultural acontece quando pessoas pertencentes a culturas dominantes, passam a usar componentes de uma cultura discriminada sem conhecer a história e o significado que existe por trás, os esvaziam de sentido com o propósito de mercantilização ao mesmo tempo em que excluem e invisibilizam quem produz, sem apoiar a luta por ascensão dessas culturas e sem oferecê-las seus devidos créditos. 

Seguem alguns exemplos de apropriação cultural: 

  • Usar tranças box braid no cabelo

Este é um exemplo de apropriação cultural muito questionado e discutido entre as pessoas. Durante muitas décadas, as tranças originárias de países do continente africano, foram consideradas feias, sujas e outros adjetivos negativos. Mas após pessoas influentes pertencentes a etnia e cultura branca passarem a adotar o penteado como um item da moda, rapidamente se popularizou entre outras pessoas brancas. 

Acontece que muitos destes indivíduos não se questionam de onde vinha a prática de colocar este tipo de tranças no cabelo, apagando um sentido cultural muito importante. Além disso, apesar de adotarem o uso de uma prática da cultura africana, não agiam em busca da libertação de igualdade de corpos negros. Apenas se preocupavam em usar o item da moda.

  • Crianças brancas fantasiadas de pessoas indígenas

Nas escolas infantis, quando é permitido às crianças irem fantasiadas, muitas vezes se vê pais vestindo seus filhos com trajes da cultura indígena, como se tratasse de uma fantasia. Acontece que quando pessoas brancas no geral usam trajes indígenas como se fossem fantasia ou apenas como acessório, apagam o verdadeiro significado que aqueles objetos têm para quem é pertencente à cultura. E mais. Se pararmos para pensar, trata-se explicitamente da cultura que dominou e apagou a história indígena, agora utilizando-a como produto comercial.

  • A cultura funk no Brasil

O estilo musical funkeiro, composto por músicas criadas principalmente (e inicialmente) por pessoas vindas da periferia, forte nas batidas e agressivo nas letras, explodiu em todas as camadas sociais. Mas quando uma pessoa jovem, periférica e sem altos recursos financeiros abraça a cultura do funk, é vista como marginalizada. Enquanto isso, pessoas de bairros nobres adoram reproduzir a mesma cultura. Porém não são vistos da mesma forma que pessoas periféricas. Ou seja, apropria-se da cultura de um camada social através de privilégios mas sem nunca ter conhecido ou colaborado com a realidade das pessoas que vivem naquela cultura. 




Concluindo o aprendizado com você

Entendeu porque alguns destes termos são muito importantes, principalmente para profissionais da área de Recursos Humanos? Um ambiente de trabalho equitativo já é exigido pelos melhores profissionais do mercado e a  cerveja gratuita no escritório não será o suficiente para mantê-los felizes em seus cargos. Saber lidar com pessoas dentro de contextos diversos é uma qualidade ímpar que toda liderança deve ter. Conhecer estes termos e como usá-los da maneira correta é, sem dúvidas, uma boa prática.

Agora que você conhece melhor estes novos termos, chegou o momento de baixar o material completo. Afinal, o aprendizado não pode parar por aqui. Nele você encontrará mais de 70 termos como estes que acabou de aprender, atualizados periodicamente através de feedbacks de pessoas leitoras, usuárias da plataforma da SafeSpace e nossas pessoas colaboradoras.


 
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