1 ano de SafeSpace: aprendizados, desafios e conquistas de Natalie Zarzur, nossa co-fundadora

natalie zarzur COO safespace

Artigo publicado em 16/11/2021

Mês passado fizemos um ano de SafeSpace. Nesse tempo, fiz de artigo de blog à projeção financeira, mas principalmente, acompanhei a jornada dos nossos clientes. E que jornada! Fomos de zero a cinquenta empresas em 12 meses, dos mais variados perfis e tamanhos. Lembro bem das primeiras que chegaram por aqui, empresas de tecnologia como a Alice, Lambda3, Incognia e Gupy.

Hoje, temos grupos como a Mutant, consultorias como a Pragmatis, empresas de mídia, como Nexo e Webedia, ONGs e transportadoras. Estamos em mais de nove países, em quatro continentes e temos clientes com equipes de 18 a 7 mil pessoas.

 

E por que essas empresas contratam a SafeSpace hoje?

Apesar dessa pluralidade de empresas e segmentos, os motivos pelos quais as empresas contratam a SafeSpace são os mesmos: 

  • ter visibilidade dos problemas de comportamento e conduta do dia a dia 

  • e construir um ambiente de trabalho mais seguro e inclusivo. 

Isso só comprova o tamanho do problema que estamos atacando por aqui – independe de momento de organização, indústria ou nacionalidade. No final do dia, é isso o que me motiva como empreendedora: eu sei o quanto todas as pessoas precisam do impacto que uma boa solução de canal de escuta tem. 

Está cada vez mais óbvio que fomentar ambientes de trabalho éticos e inclusivos é um ganha-ganha. Cuidar da segurança de pessoas colaboradoras pode economizar milhares de reais por ano para uma organização. Inclusive, é estimado que mais de 60% dos dias de trabalho perdidos atualmente são devidos à saúde mental. 

Olhar para problemas de conduta internamente também mitiga riscos legais, como processos trabalhistas ou indenizações. E os valores não são baixos. Esse ano vimos a Tesla ser condenada a pagar U$137 milhões, ou seja, mais de R$750 milhões por conta de abusos raciais no trabalho. E, quase tão importante quanto, ajuda a mitigar danos de reputação da marca. No mundo corporativo, a disputa pelos melhores talentos nunca esteve tão acirrada, e qualquer manchete negativa tem consequências graves para uma marca empregadora. Quem se lembra do caso BaseCamp, que custou à empresa um terço da equipe? Sempre dizemos aqui na SafeSpace, que se as pessoas não têm ferramentas seguras para se manifestar internamente, vão para o lado de fora.

“(...) Se Pandora não abrisse a caixa, todo ‘mal’ ali contido ficaria preso sem quaisquer consequências.”

Ainda não são todas as organizações que têm tanta clareza da necessidade de um canal de escuta. Uma vez ouvi uma empresa usar a expressão ‘abrir a caixa de Pandora’ quando falamos sobre implementar um canal de confiança para as pessoas se manifestarem. Podemos problematizar essa comparação de duas formas: primeiro, se Pandora não abrisse a caixa, todo ‘mal’ ali contido ficaria preso sem quaisquer consequências. Quando falamos de problemas de conduta, sabemos que os problemas não ficam presos na caixinha. Enquanto eles não vêm à tona, afetam a produtividade e saúde psicológica da equipe, a retenção de talentos e cultura organizacional. E quando vêm à tona, podem gerar custos legais e de reputação de marca.

E a segunda diferença é que o dilema de Pandora foi movido por curiosidade, enquanto o receio de implantar um canal está associado a um sentimento de medo.  Medo de ter que encarar que vivemos em uma sociedade com muitos desequilíbrios de poder, e que essas injustiças existem também nos ambientes profissionais. Medo de enxergar que aquelas pessoas que admiramos na empresa podem ter errado um dia, o grupo que temos amizade também, e até nós mesmos. (Fun fact: essa empresa hoje é um de nossos maiores clientes!).

 

As pessoas estão prontas para um SafeSpace?

Uma das etapas mais importantes - e emocionantes - da implementação da plataforma é o onboarding da equipe. Costumamos fazer uma conversa com todas as pessoas colaboradoras para explicar quem é a SafeSpace, porque é segura e o quão importante é criar esse espaço de escuta. Principalmente, é um momento de tirar dúvidas e garantir que todas as pessoas confiem na plataforma. É incrível como esse momento já transmite para a equipe parte do comprometimento da organização com questões de ética e inclusão, como mostram os depoimentos abaixo:

safespace clientes opinião
safespace clientes opinião
 
safespace clientes opinião

Depois do onboarding, são poucas as interações que temos diretamente com pessoas colaboradoras sobre a plataforma em si (às vezes convidamos algumas para grupos de conversa). Uma única vez, no último ano, tive a oportunidade de conversar com uma pessoa que fez um relato de assédio sexual na nossa plataforma. Ela entrou em contato para pedir ajuda no acompanhamento do caso via plataforma. Fizemos uma videoconferência e me foi explicado que ela e outras pessoas haviam passado por problemas de assédio múltiplas vezes com a mesma pessoa.

A conversa foi um turbilhão de emoções: escutar o que essa pessoa havia passado me gerou angústia, talvez por saber exatamente quão difícil é. Depois, saber que a pessoa assediadora havia sido afastada da empresa e o problema não tornaria a se repetir foi o maior sentimento de missão cumprida. Escutar da boca da pessoa que sofreu o assédio que ela nunca teria relatado se não fosse pela SafeSpace e que o problema, que já acontecia frequentemente, teria continuado me deu certeza de que estamos no caminho certo. Mais do que isso, me deu certeza de que esse é o único caminho que eu posso trilhar e a batalha que quero lutar. 

 Sempre falamos aqui na SafeSpace que problemas de comportamento nunca foram ou serão da natureza ‘ignora que passa'. Pelo contrário, ignorar esse problema só faz com que mais pessoas sejam prejudicadas e o ambiente fique mais intoxicado. Por isso, trabalhamos todos os dias para construir uma ferramenta ainda mais segura, na qual as pessoas se sintam confiantes o suficiente para se manifestar sobre os problemas antes de escalarem.

“ (...) Já tivemos empresas que vieram atrás de um canal depois que algum problema recorrente veio à tona, algo que já tinha sinais de fumaça mas nunca algum sinal claro.”


Quem são essas organizações?

Como eu falei, há uma pluralidade de perfis na nossa comunidade. Temos empresas que implementaram a SafeSpace porque estavam crescendo muito rápido e sabiam que, naquele ritmo de contratação, era normal surgirem divergências em termos de cultura organizacional. Outras que tinham canais há alguns anos mas nunca tiveram qualquer tipo de relato, e sabiam que era impossível não ter qualquer tipo de desvio de conduta. Ou ainda, empresas que tinham um baixo número de relatos. O que não estava claro para essas organizações é se a equipe não confiava no canal ou se não sabiam que ele existia. Também já tivemos empresas que vieram atrás de um canal depois que algum problema recorrente veio à tona, algo que já tinha sinais de fumaça mas nunca algum sinal claro.

O denominador comum entre essas organizações é que a liderança do time de gente e do time de compliance reconhece que nas suas empresas, assim como em todas as outras, vão existir problemas de comportamento e entendem que a diferença está em tomar alguma ação para enfrentar o problema. E, principalmente, elas estão dispostas a encarar novos desafios para garantir esse espaço mais seguro para todas as pessoas. 

Fala-se muito hoje sobre empresas inovadoras, mas o que é ser inovador de fato?

Para mim é muito claro que empresas inovadoras são aquelas que desacreditam da verdade cristalina, questionam posicionamentos antigos, se interessam por assuntos novos e adotam novas políticas. Mesmo que isso signifique deixar de lado uma crença antiga, ainda que seja forte e impositiva. Empresas inovadoras são aquelas que saem da zona de conforto e dão o salto em busca de algo melhor e mais forte.

Tenho muito orgulho de ver cada vez mais empresas com essa postura e ajudá-las a criarem espaços mais éticos, seguros e inclusivos. Trabalhar lado-a-lado com essas organizações incríveis tem sido um baita aprendizado e sei que a jornada está só começando!

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