Tecnologia e Compliance: o que as fundadoras da SafeSpace aprenderam em 3 anos de empresa
Cada uma à sua maneira, as quatro fundadoras da SafeSpace tinham um desejo em comum: usar tecnologia para transformar os ambientes de trabalho em lugares mais seguros, diversos e inclusivos.
Claudia Farias, Giovanna Sasso, Natalie Zarzur e Rafaela Frankenthal uniram conhecimento e esforços com uma missão: oferecer visibilidade às empresas diante de má conduta e entregar ao mercado uma solução capaz de modificar processos já consolidados para enfrentar problemas estruturais que naturalizam desvios de conduta.
Com um olhar apurado para questões relacionadas à diversidade, inclusão e gênero, o pontapé inicial foi construir um canal seguro em que as pessoas realmente se sentissem à vontade para relatar.
De um lado a necessidade de promover inovação quanto a um serviço tradicional, de outro a urgência de mudar a forma como as empresas e as pessoas colaboradoras percebem canais de denúncia. Os desafios eram grandes, mas o trabalho em conjunto teve resultado positivo.
O canal de escuta se tornou o principal produto, fornecido como SaaS, e desenvolvido para facilitar o engajamento das pessoas colaboradoras, dar mais visibilidade de risco ao Compliance e aumentar a capacidade de resolução interna para as empresas.
Além disso, a SafeSpace também fornece treinamentos para que empresas e equipes possam prevenir e enfrentar casos de má conduta como assédio sexual e moral, discriminação e conflito de interesses com assertividade.
Atualmente, mais de 36 mil pessoas colaboradoras são impactadas pelas soluções que vêm sendo desenvolvidas na SafeSpace.
A ideia que iniciou o empreendimento partiu de Rafaela, hoje CEO da Safe. “A vontade de fundar uma empresa veio de querer comprar uma missão que fosse importante para a sociedade, ao mesmo tempo que fosse um desafio pessoal e profissional para mim”, explica. Essa tem sido a tarefa mais difícil que já assumiu.
Um pouco de história: como a SafeSpace nasceu
Durante o mestrado em Estudos de Gênero, Rafaela passou a estudar as causas estruturais do assédio.
Entendendo como o problema impacta o mercado de trabalho, a futura CEO começou a visualizar a necessidade de uma solução que ajudasse não apenas empresas, mas também as vítimas.
“Muitas mudanças estavam acontecendo, pressionando organizações a investirem mais em Compliance, Ética e Inclusão”, descreve.
Entre as mudanças citadas, o movimento #MeToo trouxe a tona diversos casos de assédio sexual em Hollywood e em outros espaços.
No ano seguinte, em 2018, um estudo da PWC demonstrou que a principal causa de demissões ocorreram por problemas de conduta e compliance.
A SafeSpace foi fundada oficialmente em 2020. Entre o surgimento da ideia e a abertura do CNPJ, Rafaela conquistou as sócias que a ajudaram a amadurecer a ideia.
Foram convidadas a participar do projeto Natalie Zarzur, que se tornou a responsável pelos setores financeiro e sucesso de clientes, e Giovana Sasso, que assumiu a parte de produto e design da empresa.
Embora nenhuma das duas estivessem pensado anteriormente em fundar uma empresa, o propósito da SafeSpace as fascinou. “Quando conheci a proposta, eu não conseguia pensar em mais nada que valeria dedicar o meu tempo”, conta Natalie.
Giovanna foi a responsável por desenvolver o mvp da solução, a primeira landing page e os mockups usados para prospectar clientes. “Eu entrei de cabeça no projeto porque me conectei com o propósito e queria tirar aquela ideia do papel”, ressalta.
Claudia Farias, que passou a liderar a área de Tecnologia da Safe, ainda não conhecia nenhuma das três, mas um convite pelo LinkedIn a aproximou da ideia. “Tive algumas conversas com a Rafa, mas o projeto era arriscado para mim. Eu havia começado a trabalhar em uma empresa e era uma aposta alta abrir mão do conforto e da estabilidade que eu tinha.”
Mesmo assim, por sua vontade de empreender – para fazer as coisas que acreditava da forma como acreditava –, Claudia comprou a ideia e passou a integrar a iniciativa. “Hoje eu entendo que foi a escolha mais acertada.”
O que nossas fundadoras têm a dizer
Claudia Farias, CTO
“Sou especialista em segurança cibernética e esse foi o ponto que chamou a atenção da Rafa, que me abordou pelo Linkedin pedindo para marcar um café. Era uma mudança arriscada na minha carreira, mas o propósito da SafeSpace me pegou.
Eu sempre quis empreender porque isso me daria a oportunidade de fazer as coisas que eu acredito do jeito que eu acredito. Até então, em minha trajetória profissional, eu não me sentia conectada de verdade com a missão das empresas em que eu já tinha trabalhado.
Por outro lado, eu estava construindo uma carreira sólida como desenvolvedora e a aposta era alta: abrir mão do conforto e da estabilidade que eu tinha. Foi a decisão mais difícil da minha vida, mas a mais acertada também.
O crescimento da empresa traz desafios diários, mas a sensação de conquista ao vencer desafios como fundadora é muito boa. Especialmente quando trabalhamos com um propósito tão importante para as pessoas.
Meu maior aprendizado dentro da SafeSpace, arriscando soar um pouco clichê, é aprender como me tornar uma pessoa melhor a cada dia. O que fazemos aqui é diferente, não tocamos questões puramente técnicas ou profissionais.
Eu sou uma pessoa que fica feliz apenas por aprender algo e, aqui, eu sempre estou lidando com o novo e transformador. Em paralelo, é uma ótima sensação participar de um projeto que alcança seus objetivos.
Nós acreditamos que toda empresa, independente de tamanho ou setor, deve ter a capacidade de identificar e resolver problemas de comportamento. Hoje estamos em sete países, impactando a vida de milhares de pessoas colaboradoras.”
Rafaela Frankenthal, CEO
“Quando a gente para e pensa no que aconteceu nesses três anos de empresa, tudo é um desafio. A SafeSpace é a coisa mais difícil que eu já fiz na minha vida. Ao mesmo tempo, isso me motiva e me mantém em constante evolução.
Ter que resolver coisas com as quais nunca me deparei antes é a melhor forma de me desenvolver. Tudo é um desafio, mas acho que o maior de todos é crescer na mesma velocidade em que a empresa cresce.
Por outro lado, eu gosto muito disso, então essa acaba sendo a minha maior fonte de motivação. Estar à frente da SafeSpace me mantém em constante evolução.
Sempre tive muito interesse por questões relacionadas à luta pela igualdade de gênero e por pautas feministas. Em paralelo, eu e minhas sócias vivenciamos experiências de má conduta no ambiente de trabalho, especificamente, assédio.
Sempre conversamos sobre as dificuldades que as empresas têm para identificar e resolver esse tipo de problema, ou mesmo falar sobre ele.
Fiz meu mestrado na Inglaterra, onde pesquisei assédio no trabalho a partir dos estudos de gênero. Ao mesmo tempo, conheci empresas na Europa que uniam tecnologia e compliance para ajudar as empresas a navegarem por esse cenário.
Ao voltar para o Brasil, depois de uma experiência no terceiro setor, optei por seguir com a SafeSpace. Isso me permitiu unir o entendimento do problema às oportunidades de negócio que surgiam a partir disso.”
Giovanna Sasso, CPO
“Eu me lembro que no início de tudo, quando ainda não havia escritório e o time se resumia a nós quatro, sonhávamos com o dia em que teríamos 10 logos de clientes no site.
Quando atingimos essa meta, a gente estava tão focada no próximo desafio que eu nem me lembro da comemoração. Hoje, com mais de 100 clientes, temos pelo menos um novo desafio por dia.
Ao nos propormos a resolver um problema grande, estrutural, é importante não ter medo de se aprofundar e navegar nesse problema. Para mim, isso é muito difícil. Eu sempre penso na melhor forma de resolver, atacando várias frentes.
Mas, por mais que a SafeSpace seja uma startup, por mais que precise de agilidade, o ideal é ter a capacidade de manter a calma para ter melhor visibilidade da dor que a empresa se propõe a enfrentar.
Outro ponto de aprendizado foi entender que muitos dos desafios que estamos enfrentando já foram superados por outros e outras profissionais, sobretudo quando o assunto é desafios de produto ou de startup. Tenho uma rede de pessoas que me ajudam a me sentir mais segura na hora de tomar decisões difíceis.
Uma boa liderança precisa saber tomar decisões difíceis. Fazer isso pode ser muito doloroso. Líderes são pessoas, não máquinas e é fácil se apegar a um projeto, a uma ideia ou a alguém.
Quando começamos, eu não fazia ideia do que era fundar uma empresa. Hoje, eu não me vejo fazendo outra coisa, esse é o meu projeto de vida.”
Natalie Zarzur, CFO
“Nada é tão simples quanto parece. A gente vê pessoas fundando empresas de tecnologia, desenvolvendo a base, conquistando clientes, tudo pode parecer muito trivial quando você olha de fora. Mas, na verdade, isso é resultado de muito trabalho duro, de muito esforço e de pessoas muito empenhadas.
Por outro lado, ter a oportunidade de iniciar uma empresa de tecnologia e trabalhar com algo que eu gosto e acredito é um privilégio enorme. Reconhecer esse privilégio me permitiu enxergar além da minha própria realidade e parar de supor ou assumir qual é o contexto das outras pessoas que chegam na empresa.
E, no fim do dia, tudo o que a gente faz é sobre pessoas. Trabalhar com outras pessoas, construir relações com os clientes e os fornecedores, ter a confiança de investidores. Tudo é sobre os relacionamentos que cultivamos.
A SafeSpace é uma empresa que se preocupa com as pessoas. Desde o primeiro momento ficou muito claro para mim que o mercado precisava dessa solução, que os problemas que nós enfrentamos com a nossa solução mereciam mais atenção.
Todas nós, fundadoras, já vivenciamos experiências de má conduta no trabalho. Também ouvimos inúmeras histórias de pessoas que passaram por situações desconfortáveis ou criminosas até e não tinham um caminho para reportar isso.
Somos quatro sócias mulheres e isso já surgiu como obstáculo à nossa frente. Em 2021, ano em que levantamos nossa última rodada de investimento, times formados só por mulheres receberam 2% do total investido em startups nos Estados Unidos. A lacuna é gigante, o sistema é enviesado.
Tudo é um desafio.”