Sua empresa pratica etarismo? Fique alerta a esses 6 sinais

Olhe para os lados e reflita: existe diversidade de idade em sua empresa?

Etarismo, também conhecido como ageísmo, se refere à discriminação e preconceito com base na idade das pessoas. Embora seja um problema a ser evitado, ainda é algo bastante comum e perceptível com facilidade. Basta fazer o exercício acima para perceber que o número de pessoas mais velhas no mercado de trabalho é escasso.

Por trás do etarismo se escondem ideias e estereótipos como a ideia de que quanto maior a idade, menor a produtividade, a dificuldade no uso de novas tecnologias, entre outros. É uma forma de discriminação que se baseia na percepção negativa do avanço da idade, que é percebido como um fator negativo e conduz a tratamentos injustos e à exclusão social.

Apesar de se acentuar entre as pessoas idosas, o etarismo atinge grupos sociais de diversas faixas etárias. Uma pesquisa realizada pela Infojobs demonstrou como a prática é comum. Foram ouvidos 1.222 profissionais, cerca de 57% dos entrevistados passaram por algum episódio de preconceito devido à idade.

Segundo os dados levantados, 73% dos profissionais da geração Y (nascidos entre 1980 e 1989) e Z (nascidos entre 1990 e 2010) sentem que são subestimados por serem mais novos. Por outro lado, 66% dos profissionais da geração X (nascidos entre meados da década de 1960 até 1979) sentem que os mais novos duvidam de seu profissionalismo.

Leia este artigo para entender de que maneira o etarismo, ou ageísmo, se apresenta no ambiente de trabalho e quais são os sinais aos quais sua empresa deve ficar atenta. Combater esse tipo de discriminação é uma forma de construir ambientes de trabalho mais éticos, seguros e inclusivos.


 

Você sabe o que é ageísmo?

Ageísmo vem da palavra age (idade, em inglês), ou ainda etarismo, é um termo usado para descrever atos de discriminação e preconceito por conta de idade. Sim, esse tipo de preconceito existe e é mais comum do que se imagina. 

Uma situação do tipo acontece quando  uma pessoa  se sente desfavorecida, humilhada ou minimizada por conta da sua idade. No ambiente de trabalho, a maior taxa de ageísmo acontece com pessoas acima de 37 anos, no caso das mulheres, e 40 anos no caso de homens. 

Apesar das empresas estarem passando a investir em diversidade e inclusão com maior ímpeto, muitas ainda deixam de olhar para esse pilar. Este erro mina oportunidades de crescimento para pessoas mais velhas, e deixa fora do mercado a parcela da população que, segundo pesquisas do IBGE, será maioria da população do país em 2060.

Com o rápido envelhecimento populacional no mundo e especialmente acelerado no Brasil, a pirâmide etária do país está se invertendo em função de estarmos vivendo mais e tendo menos filhos. Estamos vivendo a revolução da longevidade.

ageismo no mercado de trabalho

Pensando nisso, separamos 6 sinais que podem representar discriminação por idade dentro do ambiente de trabalho. Acompanhe:

1. Comentários ou insultos relacionados à idade

Líderes e gestores que fazem comentários relacionados à idade ou falam com pessoas colaboradoras mais velhas em tom irônico ou humilhante podem estar flertando com a linha tênue entre discriminação e brincadeira. Muitas vezes as ofensas em tom de brincadeira são um sinalizador para um problema maior.

Mesmo pessoas mais velhas que não sofrem diretamente com preconceito explícito por idade podem experimentar algo chamado micro-agressões, que são 'indignidades verbais, comportamentais e ambientais diárias breves e comuns, sejam intencionais ou não intencionais.

2. Existe um padrão de contratação de pessoas colaboradoras jovens

Com a crescente do mercado de startups e tecnologia, um padrão de contratação se instaurou, relacionado a idade e outros indicadores sociais. O EEOC (Equal Employment Opportunity Commission) relata que as pessoas mais velhas em cargos de tecnologia experimentam taxas significativamente altas de discriminação por idade, com 70% das pessoas na área de TI alegando ter testemunhado ou vivenciado em primeira mão. Além disso, 40% das pessoas mais velhas na área de tecnologia consideram sua idade um risco para sua carreira.

Muitas pessoas que trabalham com processos de recrutamento e seleção podem nunca dizer isso explicitamente, mas estão em busca de talentos jovens. Em alguns casos isso se deve a vieses inconscientes sobre capacidade, ritmo de trabalho, conhecimento e sociabilidade.

Inclusive, o uso do termo “super qualificado” pode ser um sinal de discriminação por idade. É ilegal para um empregador não contratar um idoso experiente com base unicamente no pressuposto de que ele pode ficar entediado ou insatisfeito e deixar o emprego.

“Nos escritórios físicos vieram as chopeiras, as redes e puffs espalhados pelas áreas comuns, a queda do código de vestimenta engessado e… a ideia de que este lugar só abarca pessoas jovens. ”

3. Ver poucas pessoas acima de 40 anos sendo promovidas 

Sim, as empresas precisam garantir flexibilidade e entendimento das gerações mais atuais. Precisam estar engajadas nas novas linguagens, afinal o público jovem está mudando. Porém, independente da idade, as pessoas performam bem com base em qualificações e experiências. Deixar de promover pessoas acima de 40 anos, para qualquer cargo e em qualquer setor, usando a idade como critério de performance trata-se de discriminação.

Outro ponto importante é que isso pode acontecer de forma indireta. Uma empresa pode parar de dar tarefas e responsabilidades desafiadoras para pessoas mais velhas e assim incentivá-las a deixarem os seus empregos. Essa é uma tática discriminatória que frustra e desmoraliza a pessoa, ao mesmo tempo que a torna menos útil e valiosa para a organização. Sem contar que reforça o mito de que pessoas colaboradoras mais velhas não carregam habilidades únicas, são desatualizadas ou menos capazes.


4. Pacotes e incentivos para a aposentadoria antecipada 

Muitas vezes, as empresas oferecem pacotes de aposentadoria antecipada para pessoas colaboradoras mais velhas como um incentivo para que deixem a empresa. Esses pacotes podem parecer ofertas impossíveis de recusar, tanto pelo benefícios quanto pela ansiedade que causa na pessoa colaboradora que se sente pressionada a sair ou ser demitida.

Atualmente, no Brasil, a aposentadoria compulsória não é ilegal através do artigo 40 da Constituição Federal, para pessoas com idade superior a 75 anos ou que não tenham inaptidão física ou mental comprovada para desempenhar a função. 


5. Fazer corte de quadro de pessoas colaboradoras (porém a grande maioria tem mais de 40 anos) 

Cortes de quadro acontecem em empresas de todas as formas e tamanhos. Mas a sua empresa está  demitindo apenas pessoas acima de 40 anos, pode se tratar de um caso de discriminação por idade. 

Demitir uma pessoa ao alegar que aquela função não faz mais sentido para a empresa e contratar outra mais jovem na mesma função trata-se de um caso explícito de discriminação na qual a habilidade da pessoa não é levada em conta. A crença de que pessoas mais velhas não tem aptidão para operar programas e maquinários mais recentes é embasada em um estigma antigo e as estratégias das empresas não podem ser baseadas nisso.

6. Uma cultura que reproduz a ideia de que pessoas maduras não podem se encaixar na cultura da empresa

O avanço no universo das startups e a busca incessante das empresas em se tornarem disruptivas abriu portas para revoluções na cultura organizacional. Nos escritórios físicos vieram as chopeiras, as redes e puffs espalhados pelas áreas comuns, a queda do código de vestimenta engessado e… a ideia de que este lugar só abarca pessoas jovens. Pessoas mais velhas gostam de ambientes coloridos, de tecnologia e inovação, de descontração, e muitas adorariam trabalhar num ambiente como esse. 

Um reflexo disso são brincadeiras baseadas em estereótipos, características ou condições reais que acometem outras pessoas e acabam sendo discriminatórias por dois fatores. Primeiro porque podem reforçar a ideia de que pessoas mais velhas tendem a ser limitadas sempre. E segundo porque pode ser ofensivo para quem, de fato, vive dentro destes contextos de limitações e luta diariamente contra o capacitismo.

Ledo erro discriminatório das empresas que acreditam que afastar pessoas profissionais maduras transformará a cultura da empresa em algo disruptivo.


E por que falamos tão pouco sobre etarismo?

A maior parte da discriminação por idade não é relatada e não existe um SafeSpace, tornando difícil medir sua prevalência no local de trabalho.

As empresas precisam ter responsabilidade emergencial para criar esforços de conscientização sobre o tema, gerando abertura para a discussão, mostrando casos de sucesso e, principalmente, incluindo e integrando esse grupo de profissionais. Vale estabelecer programas e iniciativas que estimulem a contratação específica, assim como o suporte e desenvolvimento de carreiras e o aprimoramento da cultura para que a diversidade seja valorizada genuinamente.

Como contornar essa barreira do preconceito?

Mórris Litvak, CEO e fundador da MaturiJobs, plataforma focada na empregabilidade e desenvolvimento de pessoas maduras no mercado de trabalho, afirma:

“Talvez, o primeiro passo seja mudar a cultura. No Brasil, temos uma cultura voltada para o jovem. O Brasil é um país que envelheceu muito rápido, mas não se enxerga assim. A França levou quase 100 anos para dobrar o número de idosos, nós estamos levando 20 e tantos. Esse ritmo acelerado faz com que a mudança no perfil etário seja mais veloz que a resolução de questões básicas de saúde, de infraestrutura e, também, de mercado de trabalho. Não existe uma estrutura pensada para acomodar essas mudanças e isso é grave. As empresas estão longe de priorizar esse tema, pois acreditam que lidar com o público 50+ é uma escolha que ela pode ou não fazer. Só que não é. A questão não é se a empresa vai fazer algo sobre isso, mas quando vai. Porque o crescimento acelerado da população acima dos 50 já é uma realidade.” (Leia a entrevista completa com Mórris aqui.)

É importante esclarecer que idade não determina habilidade. Sendo assim, pessoas mais velhas não são melhores nem piores que pessoas jovens, e sim grupos complementares para o desempenho das atividades do negócio, através de visões e perspectivas plurais de um mesmo assunto. A educação continuada é uma prática crítica para a maioria dos profissionais, independentemente da idade - portanto, não se pode presumir que uma pessoa mais velha não esteja familiarizada com as ferramentas, tecnologias e práticas mais recentes.


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