Interseccionalidade: como as empresas podem ir além na estratégia de diversidade

interseccionalidade diversidade e inclusão

Artigo publicado em 28/10/2021

Para falar sobre interseccionalidade, precisamos falar sobre Kimberlé Williams Crenshaw, advogada formada em Harvard, defensora dos direitos civis e uma das principais estudiosas da teoria crítica da raça na atualidade. Hoje, atua como professora em tempo integral na Faculdade de Direito da UCLA e na Columbia Law School, onde se especializa em questões de raça e gênero. Crenshaw foi quem introduziu e desenvolveu o conceito de interseccionalidade no universo feminista acadêmico.

A produção sobre o assunto também é marcante no Brasil por nomes como Sueli Carneiro (1985) e Luiza Bairros (1995); além de Lélia Gonzales (1988) e Beatriz Nascimento (1989), que não trabalharam com o conceito em si, mas com muitas premissas que o antecedem.

O que é interseccionalidade?

Ao pensar sobre o que esta palavra significa, tente visualizar uma estrada com diversos cruzamentos. Quando esses cruzamentos se encontram, forma-se uma região central, que seria a interseccionalidade. Pense nos exemplos  “Rua do colonialismo", “Rua do patriarcado'' e  “Estrada do racismo”. 

Trazendo para o contexto social, a interseccionalidade nos mostra que os sistemas de opressão têm impactos diferentes em diferentes pessoas. Isso acontece porque cada uma delas têm marcadores sociais diversos como gênero, etnia, idade, altura dentre outros. E a partir dessas diferenças, uma mulher negra, por exemplo, sente o impacto tanto do racismo quanto do machismo.

Ao começar a desenvolver a teoria, o conceito debruçou-se principalmente em relação ao impacto desses sistemas de opressão sobre as mulheres negras. Mas as lutas e discussões feministas sobre o assunto abriram esse leque, tornando o conceito importantíssimo para as ciências sociais no geral.


Praticando interseccionalidade

Recentemente, a interseccionalidade se tornou um tema quente no mercado corporativo com o surgimento de empresas que desejam efetivar ações de igualdade social. Para que as organizações participem plena e efetivamente, é importante abordar o planejamento estratégico para diversidade, equidade e inclusão com uma perspectiva interseccional. Veja alguns exemplos tangíveis de como isso pode ser executado:

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1- No endomarketing ou marketing interno

Caso sua empresa esteja planejando destacar e parabenizar um grupo de pessoas colaboradoras, oferecer espaço para palestras ou promover qualquer outra ação interna como apresentação, retrospectiva, fotos da empresa, pense criticamente sobre:  

  1. Quem são as pessoas destacadas nas imagens? 

  2. Quem está falando na maior parte do tempo? 

  3. Quando falamos de mulheres, só as brancas são destacadas? 

     4. Tem mulheres que fazem parte de outros recortes e marcadores sociais?


2- No marketing externo

  1. Quais são os dados demográficos dos usuários do produto ou serviço que você está vendendo? O seu marketing externo representa esses dados demográficos igualmente?

  2. Você apresenta alguém com habilidades diferentes, como por exemplo uma pessoa que usa cadeira de rodas, sem que o objetivo da sua presença seja destacar o fato de estar em uma cadeira de rodas?

  3. Você representa diferentes grupos de usuários de produtos / serviços em sua publicidade? 

Abrindo espaço para todas as identidades

Pensar na interseção de identidades é uma prática para abrir sua perspectiva. Por exemplo, existem muitas maneiras de pensar sobre a intersecção de identidades de grupos historicamente minorizados ao celebrar dias específicos na história.

Um bom exemplo é considerar a sobreposição de gênero e raça quando falamos sobre “Dia de Igualdade Salarial”. Em 2021, o “Dia de Igualdade de Salário” para “todas as mulheres” foi em 24 de março de 2021, mas se você se aprofundar na pesquisa verá que mulheres negras, mulheres que são mães e mulheres trans ganham ainda menos do que uma mulher branca cisgênero que não é mãe. Inclusive, uma a cada quatro pessoas trans perdeu o emprego devido ao preconceito em 2020 e  mais de ¾ sofreram alguma forma de discriminação no local de trabalho.  


Executando as etapas todos os dias

Sabendo que dados como esses existem, mas geralmente são ignorados ou desconhecidos, o que você pode fazer para melhorar ativamente todos os dias?

  • Não agrupe pessoas em termos homogêneos. Ninguém faz parte de um monólito

Por exemplo ao dizer que ‘todas as mulheres’ ou ‘todos os empregados negros’ ou ‘todas as pessoas LGBTI’;

  • Analise bem as informação que você consome pensando sempre de quem veio aquela perspectiva; 

  • Transforme seu marketing em algo realmente diverso;

  • Faça uma auditoria interna, pesquisa de clima e ofereça sempre um espaço seguro para relatos de discrminação e outras más condutas, como o canal da SafeSpace;

  • Crie espaço para identidades diferentes da sua se expressarem. Pense: você está promovendo mulheres negras e não apenas as contratando? Você está desenvolvendo-as e fazendo-as ficar? 

A igualdade social não existe até que sejamos de fato iguais. Essa pode ser uma ideia idealista, mas podemos ter como objetivo a equidade. “Não sou livre enquanto qualquer mulher não for livre, mesmo que suas algemas sejam muito diferentes das minhas”, disse Audre Lorde. 


 
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