3 formas da sua empresa começar a apoiar a luta antirracista agora
Artigo publicado em 16/06/2020
Não é preciso se aprofundar em pesquisas para encontrar inúmeros artigos, manchetes, debates e manifestações tratando do racismo estrutural presente na nossa sociedade.
Nos últimos anos, o movimento contra o racismo ganhou força pelo assassinato de George Floyd, em um violento episódio de abuso policial em Minneapolis. O caso repercutiu em todo o mundo e é mencionado até hoje - mas não se trata de um caso isolado.
O racismo institucional é um sistema de opressão enraizado tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, e se manifesta de diversas formas na nossa sociedade. Diversos fatores mostram que ainda há um longo caminho a percorrer em busca de equidade - e no mundo corporativo não é diferente.
Hoje, com toda a atenção em cima do assunto, empresas já entendem a necessidade de direcionar esforços de treinamentos para RH em como melhorar a cultura organizacional, como lidar com discriminação no trabalho, como iniciar conversas delicadas… Neste artigo, entenda algumas práticas antirracistas para aderir agora mesmo.
Lideranças, qual é o seu papel na luta antirracista?
É normal que lideranças e pessoas em cargo de gestão não tenham clareza sobre seus papéis diante de um cenário de mudança efetiva nas empresas.
Como homem branco ou mulher branca, eu devo endereçar minha equipe sobre questões raciais? Qual é o meu lugar de fala? Essa discussão é minha responsabilidade? Como devo me posicionar? Como lidar com discriminação no trabalho e e interromper padrões?
Para iniciar qualquer reflexão e, então, debater o assunto, é preciso entender o cenário do mercado brasileiro para as pessoas negras. Alguns números do estudo Black In, realizado pela Santo Caos, escancaram a realidade e reforçam o peso da segurança psicológica dentro do ambiente de trabalho:
Pessoas negras ainda ganham significativamente menos do que pessoas brancas. A mulher negra, em especial, ganha 59% menos que um homem branco;
Somente 34% das pessoas colaboradoras das maiores empresas são negras;
Menos de 10% das pessoas ocupando cargos de liderança são pessoas negras.
Então, se levamos esses números adiante e analisamos o raio X das empresas levantadas pelo estudo, vemos o que as lideranças falaram sobre a manifestação do racismo nas culturas organizacionais. 2 em cada 3 profissionais de RH afirmam que pessoas negras são menos de 20% das pessoas candidatas às vagas.
Disseram, ainda, não haver demanda por pessoas negras quando o processo seletivo é para posições na alta hierarquia. Entre os motivos mais citados estão: preconceito, dificuldade de acesso à educação e falta de oportunidade.
Por isso, se você ocupa um cargo de liderança, é preciso aproveitar a sua posição de poder para levantar a bandeira antirracista. É preciso entender que o racismo se manifesta, grande parte das vezes, de forma inconsciente e velada. Iniciar o diálogo a respeito do tema é dar o primeiro passo: reconhecer o problema.
Algumas ações imediatas podem ser tomadas para apoiar pessoas colaboradoras pretas e pardas, melhorar a cultura organizacional para que se sintam seguros e lidar com discriminação no trabalho.
Abaixo, listamos algumas sugestões para iniciar um combate ativo ao racismo no ambiente de trabalho, aumentando o seu compromisso com a diversidade e a inclusão:
1. Envie uma mensagem para toda a empresa
Reconheça abertamente que existe uma grande injustiça sistemática no Brasil e no mundo. É importante que você expresse seus valores, reconheça sua posição de privilégio e mencione quais posturas a empresa está assumindo para promover mudanças internas.
Haja com sinceridade em relação à realidade da empresa e assuma os (muitos) espaços de melhoria – isso não é uma ação de relações públicas.
Algumas empresas americanas tomaram proveito do movimento para alavancar a imagem da marca mas, logo, as equipes apontaram o desalinhamento entre o discurso externo e o dia-a-dia. Lembre-se: o mercado está atento e já sabe reconhecer esforços reais.
2. Coloque a pauta antiracista na agenda de todos
Você não é a única pessoa na empresa e as suas ações não são as únicas que têm repercussão - embora o tom deva vir do topo para abrir o caminho. Aqui, o importante é ter em mente que pessoas negras ou pardas não tem obrigação de educarem outras sobre o racismo.
Incentive todas as pessoas a se informarem sobre o assunto, recomendando, por exemplo, uma lista de leitura. Você pode promover um grupo de discussão ou um espaço para compartilhamento de reflexões e vivências.
A área de Recursos Humanos, em específico, pode ser estratégica nesse sentido. Afinal, é a área que mantém contato com todas as outras dentro da empresa. Por isso, invista em treinamentos para RH, com foco como melhorar a cultura organizacional para pessoas de grupos sub-representados, como lidar com discriminação no trabalho, como reduzir vieses inconscientes na contratação, etc.
Para além de treinamentos para RH, treinamentos voltados para as equipes são boas oportunidades para reforçar o compromisso da organização no combate a discriminação racial: o que é inaceitável, o que é recomendável e porque relatar casos de racismo é importante - mesmo que o alvo não seja você, diretamente.
3. Escute, escute e escute um pouco mais
Você sabe como uma pessoa não branca se sente na sua empresa? Se ela enfrentasse um episódio em que se sentiu injustiçada ou discriminada por conta da sua cor de pele, teria um espaço para relatar com segurança?
Ofereça um canal de confiança para que as suas equipes comuniquem desconfortos. É essencial que as pessoas colaboradoras tenham esse espaço de escuta, em que são tratadas com seriedade quando precisam relatar qualquer tipo de incômodo vivido no ambiente de trabalho.
Mais do que abrir esse canal, você, como líder, deve incentivar uma cultura de comunicação ativa, onde as pessoas tenham a iniciativa de reportar problemas de comportamento que vêem ou vivenciem. Os treinamentos para RH também servem para capacitar a área nesse sentido.
3 passos: como ser antirracista na sua empresa
Comunique toda a empresa sobre essa necessidade
Coloque a pauta antirracista na agenda de todos
Escute, escute e escute um pouco mais
O primeiro passo é o que o nome sugere: o início de um longo caminho
Essas ações são um ponto de partida para endereçar o problema dentro da empresa, mas estão longe de ser o suficiente. É preciso ir além do diálogo e começar a traçar métricas internas e planos de ação efeitvos.,
Realizar mudanças estruturais envolve esforços a longo prazo. São construções, como melhorar a cultura organizacional para receber pessoas de grupos sub-representados e capacitar áreas responsáveis para lidar com discriminação no trabalho, além de apurar casos de má conduta.