Inclusão de A a Z: o que é 'bropropriating' e ‘braile’?
Artigo publicado em 02/06/2021
Recentemente, você ouviu alguma pessoa falando sobre Diversidade e Inclusão? Se a resposta for positiva, tenha certeza que você não é a única. Um novo mercado de Diversidade e Inclusão está se formando como reflexo dos avanços sociais que estamos vivendo.
Com o surgimento de movimentos como o #metoo e o #blacklivematters, as empresas começaram a entender que não existe mais espaço para culturas organizacionais desalinhadas com o avanço social. A chegada de novas gerações no mercado de trabalho trouxe novos ideais, tornando o cenário ainda mais positivo para o desenvolvimento de estratégias de inclusão.
Quando falamos de um novo cenário, é normal que muitas dúvidas surjam. Práticas de diversidade e inclusão, por exemplo, trazem além de novas reflexões, termos que não eram comumente usados. Se você acompanha a SafeSpace há algum tempo, deve saber que criamos um dicionário para te ajudar com essa missão, chamado “Diversidade e Inclusão de A a Z” e que você pode baixar gratuitamente neste link aqui. E para complementar os aprendizados que o glossário trouxe, todo mês vamos explorar algumas palavras que estão por lá. Assim, além de saber seus significados, você poderá entender novos conceitos na prática.
Na edição de hoje trouxemos dois termos que compõem a letra B do dicionário: bropropiating e braille. Vamos lá?
Bropropriating
Para ilustrar esse termo, vamos contar uma história. Em 1951, Rosalind Franklin, química britânica formada pela Universidade de Cambridge, descobriu a forma da molécula de DNA. Ela não apenas fez a descoberta como também registrou em foto a primeira imagem feita da dupla hélice molecular, através de uma técnica própria usada por ela, que consistia em aplicar cristalografia junto a difração de raios-X.
Ok, é uma descoberta muito interessante e importante, mas até aqui você deve estar se questionando se nós erramos o conteúdo do artigo. Afinal, o que tem a ver a descoberta da molécula de DNA com diversidade e inclusão? Vamos direto ao ponto. Quem levou o crédito pela descoberta, não foi Rosalind, mas sim Francis Crick e James Dewey, dois homens que trabalhavam com ela no mesmo laboratório. Como se não bastasse nomearem a si a descoberta, ainda ganharam um prêmio Nobel pelo feito em 1962.
Te contamos esta história para que você entenda com mais facilidade como e porque acontece o que foi nomeado como “bropropriating”, um neologismo na língua inglesa formado pela junção do prefixo bro (de brother, fazendo menção a gíria “cara” ou “irmão”) e propriating (da palavra appropriating, que significa apropriação). Este termo surgiu recentemente no século XXI para explicar a ação de um homem que rouba a ideia ou fala de uma mulher e usa como se fosse sua.
Apesar da inserção da palavra no vocabulário social ser recente, o contexto que a define é histórico. Por conta da discriminação de gênero, a maioria dos espaços de trabalho que demandam conhecimento intelectual, hoje chamados de STAM (sigla para Science - Ciência, Technology - Tecnologia, Engineering - Engenharia e Mathematics - Matemática), são predominantemente masculinos. E é essa estrutura que possibilitou e ainda possibilita o enviesamento de que mulheres têm menos afinidade e conhecimento nessas áreas.
Mas SafeSpace, o bropropriating ocorre só nas STAM?
Não! Usamos esse exemplo para mostrar a extensão do problema, já que, convenhamos, a descoberta da molécula do DNA é algo realmente importante para o Universo das Ciências. Mas, apesar de temos apontado este exemplo, esse é um problema que aflige qualquer indústria, pois não tem a ver com o tópico do trabalho e sim com relações de poder e desigualdade de gênero.
Pode ocorrer em Universidades, em startups, empresas do mercado financeiro, na indústria do entretenimento e por aí vai. Inclusive, este é um cenário que se repete muito em reuniões de qualquer tipo. O padrão estrutural existe porque mulheres são menos ouvidas em momentos de decisão e, a partir daí, passam a ser desacreditadas, ocupando menos cargos de Liderança e Gestão. Para um sistema machista como o que vivemos, é o cenário ideal para se ter uma ideia roubada servindo de degrau para outra pessoa.
E vem cá, Safe. Não são só os homens que roubam ideias de mulheres. Todo mundo rouba ideias, não é?
Olha, essa é uma certeza. Você já ouviu aquela frase do Chacrinha “na natureza nada se cria, tudo se copia”, parafraseando Lavoisier? Ela pode ser real e, às vezes, englobar seres humanos no geral. Acontece que, como explicamos ali em cima, a estrutura patriarcal e machista em que nossa sociedade que foi criada, por séculos negou espaço e reconhecimento a figura feminina.
Como somos um reflexo da nossa ancestralidade, é simplesmente ingenuidade acreditar que todas as relações já ocorrem de forma igualitária entre gêneros distintos. Temos um longo caminho a percorrer e parte dele passa por devolver às mulheres o que lhes foi retirado e ainda é, como se fosse algo correto ou natural. Portanto, precisamos salientar que quando um homem se apropria da ideia de uma mulher, existe um contexto histórico que durante muito tempo lhe deu proteção e o aplaudiu por tal ato. Sempre repetimos muito essa frase por aqui, mas ela funciona para todas as provocações sociais: só podemos transformar aquilo que temos conhecimento.
Braille
Você provavelmente já deve ter ouvido falar sobre ou ao menos já se deparou com os pontinhos em relevo de qualquer superfície que funcionam como um sistema de comunicação escrita para pessoas cegas.
Criado no século XIX por Louis Braille, este sistema de leitura e escrita revolucionou a vida das pessoas que têm deficiência visual parcial ou total. E quando falamos sobre revolução, falamos sério. Afinal, você já parou para pensar como pessoas cegas identificavam, por exemplo, alimentos que estavam comprando? Ou trazendo para os dias atuais, como chamariam um elevador em um prédio?
Muito mais do que pontinhos para a leitura, o sistema Braille é sobre independência às pessoas com deficiências visuais e por esse motivo merece ser celebrado.
E como funciona, SafeSpace?
O código Braille é composto por 63 sinais, resultados de uma combinação de pontos dispostos em uma célula de três linhas e duas colunas cada uma. A leitura é feita de forma tátil, com as pontas dos dedos, após a pessoa memorizar o que representa cada sinal.
Um dos princípios da metodologia braille é que os pontos em alto relevo sigam medidas padrões e as células com os grupos de pontos respeitem o limite de percepção da ponta dos dedos. Dessa forma, facilitando o aprendizado e o uso da técnica.
Inicialmente esta proposta era pensada apenas para a leitura, mas em pouco tempo surgiram dois novos avanços: a escrita à mão com a utilização de uma reglete e uma punção, uma adaptação da máquina de escrever tradicional ao sistema braille. A partir da chegada do computador no final do século XX, pessoas com deficiência visual tiveram a possibilidade de operar um computador através de um teclado braille.
Se parece incrível para você, que está lendo este artigo com os olhos, imagine para as mais de 300 milhões de pessoas com deficiência visual que existem no mundo!
*Ref.: https://novaescola.org.br/conteudo/397/como-funciona-sistema-braille