Como iniciar uma conversa sobre desigualdade racial no trabalho
O assassinato brutal de George Floyd desencadeou protestos e discussões sobre raça, justiça, e violência policial nos Estados Unidos e ao redor do mundo. Muitas pessoas aproveitaram o momento para trazer à tona verdades sobre relações de poder nas empresas e estender o debate e a pressão para mudança para o ambiente de trabalho.
Ao longo dos últimos meses vimos vários líderes e marcas sendo responsabilizadas pelo compromisso (ou falta de um) com a luta antiracista. Apesar da repercussão poderosa, o caminho que temos que percorrer ainda é longo e por isso que é tão importante que todos nós levantem a bandeira da equidade racial no dia-a-dia.
Por que pode ser difícil discutir questões raciais e por que você deveria engajar mesmo assim
Discutir temas relacionados a desigualdade racial no trabalho pode ser difícil para algumas pessoas. Como este tema está ligado à relações de poder e privilégios, é comum que pessoas que levantam essa bandeira enfrentam alguma resistência. Quando pessoas de contextos sociais, origens e experiências variadas entram na conversa, camadas de diferença podem adicionar ainda mais tensão ao diálogo.
Por isso, colaboradores geralmente sentem medo de sofrer alguma forma de retaliação e às vezes até danos psicológicos e sociais por levantar a bandeira da igualdade racial. Isso ocorre porque, embora o objetivo e o retorno de tais conversas possa não ser imediato (desconstruir o racismo sistêmico), o risco (rejeição das suas ideias) é muito mais tangível. Apesar dessa dificuldade, quando nos abrimos para o diálogo, nos colocamos numa posição melhor para entender, aprender, refletir e fazer as mudanças necessárias para criar ambientes de trabalho mais justos e inclusivos.
Então, como você pode defender a causa da justiça racial na sua organização, incentivar mudanças internas e ao mesmo tempo mitigar o risco de rejeição, preservando suas opções de carreira e saúde mental?
Aqui vão 5 estratégias que vão te ajudar a maximizar o impacto do seu ativismo anti-racista no trabalho:
1. Pratique empatia e procure fazer perguntas
Um ótimo ponto de partida para uma conversa difícil é reconhecer a resistência e não desvalidar os sentimentos da(s) outra(s) pessoa(s) - seja esse sentimento choque, raiva, tristeza, desconforto ou dúvida. Faça perguntas para tentar compreender o ponto de vista de quem está ouvindo. Se mostre paciente e interessado para que a pessoa se sinta confortável para falar sem medo de ser julgada.
2. Use a força do coletivo a seu favor
A voz coletiva é mais forte do que a voz individual. Pensando nisso, tente encontrar colegas que compartilhem das mesmas ideias que você e levantem essa bandeira juntos. Isso aumenta a chance das suas ideias serem ouvidas. Se você não conseguir achar pessoas dentro da sua empresa que possam te dar esse apoio, use referências de figuras públicas que compartilham a mesma perspectiva que você.
3. Comunique a mensagem de uma forma que seja atraente para o ouvinte
Transmitir a sua mensagem da forma mais inclusiva possível pode ajudar a reduzir a o efeito de polarização que frequentemente é associado a causas sociais. Se você comunicar a mensagem num tom de 'venha evoluir junto comigo' ao invés de 'eu estou te criticando' isso pode facilitar bastante o processo de escuta do outro. Se for possível, pegue um exemplo de mudança positiva que a empresa na qual você trabalha fez recentemente ou até mesmo uma mudança que partiu de um colega e use isso como ponto de partida para mostrar que esse caminho é possível e positivo.
4. Retome a conversa depois de um tempo
Não importa quão bem você transmitiu a mensagem, falar sobre injustiça racial ainda é difícil para algumas pessoas e portanto sempre existe uma chance de haver algum mal entendido. Por isso, uma boa forma de ajudar a desconstruir esse estigma social e aumentar as chances de ser agente de alguma mudança, é importante sempre revistar o assunto com as mesmas pessoas e confirmar que a mensagem ficou clara. Essa também é uma boa oportunidade para sanar dúvidas que possam ter surgidos depois da conversa, aumentando a profundidade da pauta.
A importância de oferecer um espaço seguro
Acima de tudo isso, é importante não assumir que as pessoas negras necessariamente vão se sentir confortáveis e seguras em discutir questões relacionadas à discriminação e injustiça racial no seu ambiente de trabalho. Por mais que a intenção seja boa, muitas pessoas ainda sentem medo de sofrer retaliação e vergonha em se manifestar porque infelizmente nem todos os locais de trabalho fomentam uma cultura saudável e inclusiva.
Então, além de incentivar conversas abertas e sinceras sobre raça no trabalho, é igualmente importante oferecer um espaço seguro para que as pessoas negras possam se manifestar sobre discriminação, micro agressões, e outras formas de intolerância caso elas não se sintam confortáveis de fazer isso cara-a-cara.