Relatos em anônimo: 3 análises sobre porque essa opção é importante

Apesar da disponibilidade de canais que atendam relatos em anônimo, lideranças de RH e empresas ainda hesitam em apresentar essa prática às suas organizações. No entanto, um relato em anônimo é uma das maneiras mais eficazes de entender como as pessoas colaboradoras estão realmente se sentindo - sem mencionar uma enorme influência positiva nos esforços organizacionais de inclusão. Neste artigo, vamos analisar mais de perto o valor de um relato em anônimo e o papel que ele pode desempenhar para criar uma cultura empresarial mais inclusiva. 

Faz sentido permitir relatos anônimos?

Sim, e essa afirmação é incontestável, salvo casos específicos como acordos em judiciais. Afinal, se uma das principais razões pela qual as pessoas não denunciam situações de má conduta hoje é o medo, o anonimato pode ser a salvação. Porém, algumas organizações se veem resistentes em oferecer uma plataforma que permita um relato sem identificação com o receio de que possa: 

  • Aumentar relatos de situações forjadas ou super representadas;

  • Tornar difícil esclarecer ou acompanhar relatos de indivíduos específicos;

  • Não oferecer um contexto útil para a cultura corporativa;

  • Desencorajar conversas cara a cara.

Muitos desses problemas podem ser resolvidos por meio do uso de ferramentas mais assertivas, que sejam realmente usadas pelas pessoas colaboradoras passando confiança e seriedade. A plataforma da SafeSpace, por exemplo, permite que a pessoa que está relatando, e o RH ou Compliance da empresa, se comuniquem em tempo real, mantendo o anonimato. No entanto, quando a ideia é absorver os pontos positivos dos relatos em anônimo, com base em experiências vividas por parceiros, pudemos identificar diversos benefícios oferecidos, que se mostram muito importantes para a organização identificar casos de má conduta. Especificamente, um Canal de Escuta com opção anônima pode: 

  • Incentivar taxas mais altas de uso do Canal 

  • Trazer opiniões mais honestas sobre o espaço de trabalho

  • Reduzir a pressão para perfis mais introvertidos ou pessoas tímidas

  • Afastar o medo de retaliação 

  • Criar uma cultura empresarial mais inclusiva


Como relatos em anônimo podem criar uma cultura mais inclusiva 

1. Oferecendo um ambiente psicologicamente seguro

Relatar uma situação de má conduta como assédio ou discriminação pode ser muito desconfortável - especialmente quando se trata de situações veladas, em que a vítima não tem apoio ou não sabe como buscá-lo. Relatar tópicos delicados para uma pessoa desconhecida é algo ainda mais complexo

Por trás do desconforto das pessoas colaboradoras está o medo de que seus apontamentos não sejam levados a sério ou de que enfrentem retaliação por suas ações. Situações assim são ainda mais delicadas para pessoas em grupos sub-representados, como pessoas com deficiência, negras, indígenas e abertamente pertencentes a comunidade LGBTQIA+. Além disso, durante muito tempo relatar uma situação de má conduta foi tratado como tabu carregando o impacto da palavra “denúncia” para o jogo. Contar à área de RH ou ao setor Jurídico que sua liderança te fez chorar, ou que você foi excluído de uma reunião por causa da sua forma de falar, não deveria ser uma experiência ainda mais estressante do que lidar com a situação. 

Por isso, relatos anônimos são aliados de empresas que enxergam feedbacks e denúncias como uma oportunidade de construir uma cultura organizacional cada vez melhor. Oferecer um Canal de Escuta com essa opção é a saída mais segura para garantir que um problema seja visto sem que a primeira pessoa a levantar a mão tome um risco muito grande. Como consequência, sua empresa estará um passo à frente diante de padrões de má conduta.

2. A quebra de barreiras para falar

Existem muitas barreiras que podem impedir as pessoas colaboradoras de falarem algo que as incomoda ou até mesmo relatarem uma situação fraudulenta que testemunharam. Muitas acreditam que não existe espaço para que se declare situações de má conduta sem necessariamente se envolver ou se prejudicar na situação. Outras pensam que por conta de sua posição na empresa, jamais seriam levadas a sério ou ainda que o desgaste que estão vivendo naquele espaço é irrelevante para a organização. Na verdade, uma pesquisa recente identificou que 49% dos pessoas colaboradoras não são regularmente questionados sobre o que pensam ou como se sentem em relação à cultura da empresa.

Relatar em anônimo remove muitas dessas barreiras e oferece espaço para que todas as pessoas tenham a oportunidade de compartilhar desde feedbacks negativos para liderança até situações agressivas de má conduta - independentemente de sua formação, nível hierárquico ou área. Este ambiente não discriminatório pode criar uma cultura muito mais inclusiva, garantindo que a palavra de todas as pessoas recebe o mesmo peso. 

3. A pausa nos vieses inconscientes (ou conscientes)

Receber relatos em anônimo é uma forma eficaz de reduzir os preconceitos que podem atingir quem está delatando. Saber que preconceitos estão sendo mantidos fora da equação também pode encorajar mais pessoas colaboradoras a compartilharem seus sentimentos com a vivência no espaço de trabalho de forma honesta. Inclusive, um estudo constatou que pessoas que percebem estar em um ambiente de preconceito têm 2,6 vezes mais probabilidade de reter ideias para si e não levar inovação para a organização por até seis meses.

Para exemplificar, não precisamos ir muito longe. Imagine que um líder homem mantém pensamentos misóginos, como aqueles em que afirmam que uma mulher se expressando de forma convicta está emocionada ou de TPM. Agora imagine esta mesma mulher passando por uma situação de assédio. Provavelmente ela não sentirá que seu incômodo será levado a sério, ainda mais se relatar a má conduta de forma nominal. Mas pode ser que o anonimato lhe garanta um pouco de segurança para contar o que está passando.

Muitas pessoas carregam em si uma série de preconceitos (ou vieses) que as fazem levar a fala de certos grupos menos a sério do que outros. Isso é extremamente prejudicial e pode suprimir as vozes de certos grupos sociais dentro da organização. Embora não seja possível remover todos os preconceitos do processo de coleta de feedback, o anonimato reduz as chances de esses preconceitos afetarem as ações da equipe de liderança.

Como lidar com relatos em anônimo?

É comum empresas entenderem os relatos em anônimo como um empecilho para a resolução de um problema estrutural, porém quando analisados de forma correta e cuidadosa, toda informação torna-se uma peça chave para a conclusão de um caso. Para usufruir de uma forma positiva de um relato em anônimo, ou seja, para garantir que ele ajude a resolver um problema dentro da empresa, existem alguns passos que precisam ser levados a sério:

  1. A triagem do relato deve ser feita com esforço real e sempre com a finalidade de resolver a situação, nunca com a ideia de esconder ou acusar quem está relatando.

  2. A pessoa que opera o canal precisa ter a habilidade de passar confiança para quem está relatando. Dessa forma, como o nosso Canal de Escuta funciona com troca de mensagens em tempo real, mais informações relevantes sobre o caso poderão ser colhidas.

  3. É importante ter um sistema de gestão de relatos para que se tenha visibilidade de tudo o que pode estar acontecendo dentro da empresa. Esse passo é muito importante porque situações que caracterizam, por exemplo, assédio moral, acontecem com recorrência mas nem sempre próximas uma da outra. Então é essencial que todos os relatos possam ser visualizados e acessados pela área responsável sempre que for necessária a consulta de algum dado. Um dashboard pode ajudar neste caso.

  4. Caso precise pedir a quebra do anonimato a pessoa envolvida, ofereça a segurança do sigilo.

Viu só? No final das contas sua empresa só tem ganhos com um Canal de Escuta que oferece a possibilidade do anonimato para que as pessoas colaboradoras possam relatar. Mas lembre-se, o funcionamento eficiente de um Canal depende de outros fatores estruturais que merecem atenção. Esteja em dia com os estudos de compliance e foque em transformar sua empresa em um espaço de escuta ativa. Essa é a porta de entrada para uma cultura de confiança.‍

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