Perguntas, respostas e provocações sobre o mercado de tecnologia com Clarice Macedo, Tech Recruiter da GeekHunter
Clarice, vamos começar o papo falando sobre você. Conta um pouquinho sobre sua trajetória pessoal e profissional até a GeekHunter.
Eu tenho 31 anos, sou casada e carioca. Apaixonada pela aprendizagem de todas as formas.
Tive muitas dúvidas de qual curso escolher na faculdade, principalmente entre pedagogia e psicologia. Minha mãe é pedagoga, sempre trabalhou em escolas e eu acompanhei de perto. Acabei escolhendo seguir o mesmo caminho.
Meu primeiro estágio foi em uma escola, onde comecei a ter contato com crianças. Ali, entendi que, na prática, lidar com pessoas é bem diferente da teoria. Continuei me inserindo na educação infantil e, ao longo do caminho, cursei uma pós em psicopedagogia para me aprofundar mais ainda nos processos de aprendizagem, principalmente, nas dificuldades atreladas a eles.
Nunca deixei de gostar do ambiente educacional, nem de ser professora, mas algo dentro de mim estava encerrando aquele ciclo nas salas de aula. Passei a querer novos desafios - profissionais e pessoais. Então, por que não o RH?
De alguma forma, acho que o RH tem muita proximidade com a área educativa, porque a educação corporativa é parte importante do dia a dia de trabalho. Depois de buscar vagas por um tempo, consegui me inserir como Talent Acquisition na Academia do Universitário, que é uma startup. Lá, conduzia o processo seletivo de estagiários em empresas de diversos portes pelo Brasil.
Tinha contato com pessoas sempre, mas sentia falta de trabalhar com outras senioridades. Juntei isso a um interesse enorme que cresceu pelo setor de tecnologia - tão falado, tão extenso, que me desafia a aprender. Hoje, sou Tech Recruiter da GeekHunter. Em outras palavras, atuo no recrutamento para as empresas clientes, especificamente para profissionais de tecnologia.
Hoje, existem muitos projetos de capacitação em tecnologia voltados para pessoas de grupos sub-representados. Como você entende o papel das empresas empregadoras em apoiar e incentivar essas iniciativas? Você sente que esse movimento já acontece bastante aqui no Brasil?
No Brasil, a gente ainda aborda a pauta de Diversidade e Inclusão de forma muito reduzida, com públicos muito específicos. Isso quando aborda. Eu vejo sim times mais diversos hoje em dia, mas não posso dizer que esse movimento já acontece como deveria. Muitas organizações têm o discurso e não o aplicam na prática - e essa reflexão é muito válida para o recrutamento.
Existem várias iniciativas que fazem o trabalho de formar pessoas pertencentes a grupos sub-representados para cargos em tech, mas precisam de muito mais atenção e investimento por parte das empresas. É o caso de projetos de inserção de mulheres na área, por exemplo. A diversidade de gênero no mercado de tecnologia é um buraco enorme, que vai muito além dos processos seletivos.
Tem aquela frase famosa “diversidade é convidar para a festa, inclusão é chamar para dançar”, que se aplica bastante a questão da responsabilidade das organizações. O processo seletivo é o convite para a festa.
É importante pensarmos que um setor cada vez mais forte e bem pago como o de tecnologia pode assumir bastante impacto na sociedade. Como Tech Recruiter, você enxerga na demanda por talentos uma oportunidade de usar o recrutamento como alavanca de Diversidade & Inclusão?
O recrutamento em tecnologia deve servir sim como uma alavanca de Diversidade e Inclusão. Afinal, é a porta de entrada para um mercado amplo, que sempre estimula o aprendizado.
Mas continuo batendo na tecla que não adianta fazer um processo seletivo focado em um grupo específico se a empresa não tiver um olhar cultural para recebê-lo. Sem outros esforços, não vai existir a retenção das pessoas que foram trazidas para dentro da organização.
Um ponto muito importante, que pode parecer repetitivo, mas que é muito aplicável no dia a dia: se a empresa fornece os mesmos recursos para que as pessoas realizem seus trabalhos, está partindo do princípio que todas têm a mesma realidade. Não considerar as diferentes necessidades é caminhar para longe de um cenário de inclusão ainda mais distante.
Por fim, mas não menos importante: a questão dos cargos hierárquicos é um gap enorme em todos os recortes sociais, e que tem muito impacto nesse sentido. A alavanca de inclusão é olhar com atenção para a diversidade em posições de liderança.
A falta de diversidade no mercado de tecnologia é um problema histórico. Hoje, a manutenção dessa desigualdade acaba desconsiderando a necessidade por inovação do próprio setor. Esse diálogo já ganhou protagonismo internamente?
Existem vieses na cabeça de todas as pessoas, e quebrar isso é um caminho longo. Está enraizado, e as empresas têm um papel enorme em quebrar esses paradigmas internamente. Por exemplo, quando falamos a palavra “líder”, provavelmente o que vem a sua cabeça é um homem, branco, hétero.
Eu valorizo muito a aprendizagem, como trouxe no início do nosso papo, e para mim quebrar paradigmas é sobre isso. O processo de recrutamento e seleção me educou de muitas formas, e eu já ensinei também.
As diferenças entre os recortes sociais vão muito além do que é visível. Então quando falamos sobre gênero, raça, etnia, estamos falando sobre diferentes bagagens. Consequentemente, estamos falando sobre diferentes caminhos para tomadas de decisão, processos, ideias. Eu fico muito feliz em ver a força que a nova geração traz para as pautas. Eu trabalho com diferentes senioridades, e é muito rico ter contato com as pessoas que estão entrando no mercado de trabalho, já com uma cabeça mais “aberta”.
Por fim, você indica algum material para pessoas que estejam pensando em migrar para a área de tecnologia? Pode ser um livro, podcast, filme, vídeo… Vale de tudo!
Eu acredito que o Podcast Nerdtech é uma boa indicação para iniciar na área. E acessar as comunidades no Telegram e/ou Discord também!
Além disso, algumas regras de convivência no trabalho são comuns a todas as pessoas que buscam se colocar no mercado, e essenciais para garantir bons resultados.