Inclusão de A a Z: o que é discriminação racial e como combatê-la no ambiente de trabalho?
A discriminação racial é reflexo da nossa história colonial. Por muitos anos, as pessoas foram marginalizadas apenas e somente pela sua etnia e cor de pele. Até hoje, essa é uma realidade a ser superada no Brasil.
Isso fica ainda mais evidente ao observar dados como os da pesquisa realizada pelo Observatório da Diversidade e da Igualdade de Oportunidades no Trabalho, que mostra que a menor média salarial no país é da população negra.
Porém, não basta conhecer os números dos estudos, é preciso que as empresas busquem estratégias e sejam pró-ativas para reduzir o preconceito e dar voz às pessoas pretas.
Mas, para a construção de um ambiente de trabalho inclusivo e democrático, é preciso que o setor de Recursos Humanos tenha um entendimento profundo sobre o assunto, assim como suas consequências em nossa sociedade e as formas de combater esse problema.
Veja a seguir mais sobre o tema e reflita sobre como as companhias e o RH podem auxiliar no combate da intolerância.
A discriminação racial no Brasil
A discriminação racial é aquela que ocorre contra qualquer pessoa com base em sua cor de pele, raça ou origem étnica. Em outras palavras, é quando pessoas negras, indígenas e asiáticas e outros tipos fora do padrão europeu são subjugadas apenas por serem como são.
Esse cenário no país tem origem histórica: o Brasil foi o último país da América a abolir a escravidão e não teve política de inserção da população recém liberta seja socialmente, seja no mundo do trabalho formal. Esses são dois dos fatores que originaram uma sociedade na qual o racismo estrutural está presente.
Tendo esse contexto histórico em mente, é possível entender a realidade, em que o abismo socioeconômico é grande e as oportunidades para pessoas não-brancas no mercado de trabalho são mais escassas.
Fato comprovado por pesquisas realizadas pela PNAD, que mostram que a diferença de salário entre brancos e negros é de 31%. Ou seja, não é sobre formação e preparação técnica, é sobre raça e cor.
Uma breve história para ajudar a refletir
Henry Louis Gates Jr. é escritor e diretor do centro de pesquisas sobre África e afro-americanos em Harvard. Ele veio ao Brasil algumas vezes no começo dos anos 2000 para compor e concluir alguns estudos sobre cultura negra na América Latina.
Gates conta, em entrevista para a ECOA, que quando veio a primeira vez, não conseguia tirar da cabeça, cenas do filme “Orfeu Negro”. A obra traz uma adaptação da mitologia grega para a realidade brasileira das favelas do Rio de Janeiro.
Nesta entrevista, Gates afirma que:
"Ao assistir a obra, meus amigos e eu achamos que o Brasil era o mais extraordinário dos lugares: uma democracia mestiça. A julgar pelo filme, o Brasil era mulato. Para nós, parecia o equivalente cinematográfico da teoria de Gilberto Freyre sobre o Brasil como uma democracia racial. E tudo aquilo me fez desejar visitar o país."
Não demorou muito para Henry perceber que era a única pessoa preta sentada em mesas de restaurantes. E a única hospedada em hotéis de classe alta. As capas de revista eram dominadas por pessoas brancas, assim como os bairros residenciais economicamente ricos. Que democracia racial seria essa, então?
Discriminação racial no trabalho
A discriminação é, dentro dos espaços de trabalho, uma grande vilã. Isso porque, além de configurar uma ação criminosa, gera problemas de relacionamento entre as pessoas colaboradoras e cria um ambiente hostil.
Na busca por conscientizar profissionais no espaço laboral sobre o problema por trás da intolerância, é essencial trazer discussões saudáveis sobre temas relacionados ao preconceito nos locais de trabalho.
E para isso, o RH deve estar atento não apenas aos desvios de conduta, mas também às consequências do racismo estrutural dentro da corporação.
Veja, abaixo, situações em que a discriminação aparece no ambiente corporativo.
Como o preconceito racial aparece no ambiente de trabalho
Ao ver os números sobre a discriminação racial no ambiente de trabalho no Brasil, você pode até pensar que a sua empresa não está inclusa nesse cenário. Mas a verdade é que, muitas vezes, não nos damos conta do problema até que seja colocada uma lupa nessa temática.
Para isso, trouxemos algumas perguntas que ajudam a refletir sobre a situação atual:
1. Qual a proporção de pessoas colaboradoras negras no quadro de funcionários da empresa?
Segundo o IBGE, em 2022, a taxa de desemprego entre pretos e pardos ficou acima de 12%, enquanto entre brancos não chegou nem a 10%.
Se a resposta para a pergunta acima refletir os números da pesquisa, sua corporação pode (e deve) promover a contratação de pessoas colaboradoras pretas e pardas.
2. As pessoas colaboradoras negras passam por um processo de seleção que lhes garante as mesmas oportunidades?
Segundo pesquisa da LabCidade, laboratório de pesquisa da FAU-SP, a população preta de São Paulo está localizada nas periferias, mais distantes dos grandes centros comerciais. O racismo também se reflete na distribuição demográfica: as áreas com melhor infraestrutura são dominadas pela população branca.
Isso impacta diretamente na contratação por empresas que oferecem apenas regime de trabalho presencial. E aqui, fica a pergunta: sua corporação é capaz de tratar as pessoas candidatas de forma igualitária?
3. Os cargos de liderança da empresa têm proporções igualitárias entre pessoas colaboradoras brancas e negras?
Assumir cargos de liderança é um caminho que parece ainda mais distante para a população preta. Segundo o IBGE, apenas 29% das pessoas colaboradoras afrodescendentes ocupavam cargos de direção.
Além da inclusão e diversidade nos momentos de tomada de decisão, empresas com pessoas negras em cargos de liderança disparam na promoção de representatividade.
Mostrar para crianças e jovens negros que a cor ou etnia não os impedem de chegar ainda mais longe torna aquela corporação uma referência profissional e pessoal.
Viu como, muitas vezes, há pontos a melhorar dentro do seu negócio?
Ao identificar essas situações-problema, é o momento de se unir para pensar em estratégias e ações que irão reverter o cenário.
Como o RH pode combater essas ações?
Como já mostrado até agora, a discriminação racial é uma realidade no mercado de trabalho brasileiro. E ela não só prejudica o ambiente, como afeta diretamente o caixa das empresas.
Os casos de indenização por ato moral preconceituoso somaram mais de 49 mil processos em 2019 conforme divulgação da Coordenadoria de Estatística e Pesquisa do Tribunal Superior do Trabalho.
Imagine só a despesa de uma companhia com advogados, processos e possíveis indenizações consequentes de casos de discriminação racial? Além de afetar a credibilidade e a imagem da corporação, já que 53% das pessoas afirmam não consumir de marcas que possuem comportamento racista.
Por isso, o RH deve preparar e educar as pessoas colaboradoras a ponto de reduzir as possibilidades de intolerância no espaço laboral.
Conversar, educar, conscientizar todo o time colaborador
O primeiro passo é entender que o problema existe e que, provavelmente, faz parte da rotina da sua empresa. Ninguém gosta de admitir que tem atitudes discriminatórias, mas o racismo estrutural está tão enraizado em nossa sociedade que ele pode acontecer sem que a gente perceba, como no próprio uso da linguagem.
A expressão “a coisa tá preta” é um exemplo de fala racista.
Por isso, é essencial trazer à tona esse tema. Seja em palestras, workshops, treinamentos ou com distribuição de material de conscientização interno.
Criar e desenvolver programas de inclusão e diversidade
Não basta conversar com todas as pessoas colaboradoras e dar o assunto por encerrado. Parte da ação deve ser promover a inclusão de pessoas de etnias, cores e raças diferentes. Como a criação de metas para contratação e promoção de pessoas colaboradoras que sofrem intolerância por parte da sociedade.
Crie e divulgue vagas afirmativas e ofereça programas de aceleração de carreira para promover líderes que tragam diversidade para o quadro dos tomadores de decisão da organização.
Ajuste a comunicação interna e externa da corporação
Ações educacionais e afirmativas antirracistas devem ser estimuladas pelas lideranças. Desde materiais de comunicação interno, como e-mails e banners, até aqueles que aparecem para o grande público, como posts nas redes sociais, precisam refletir essas atitudes.
Use imagens que representem a diversidade de cor, raça, etnia, gênero. Mas é importante lembrar que não basta mostrar para o mundo uma realidade que não existe dentro da corporação. Afinal de contas, uma mentira não se mantém para sempre e as consequências podem ser ainda mais catastróficas.
Dê voz a quem precisa ser ouvido
Ações discriminatórias não podem passar por baixo dos panos em uma empresa. A cultura do “deixa disso” ajuda a perpetuar uma realidade dolorida, exclusiva e desigual.
Se o time operacional não tem espaço para relatar casos de preconceito e intolerância, a corporação não fica sabendo e nada poderá ser feito. Por isso, é imprescindível que o departamento de RH disponibilize um canal de escuta para desvios de conduta.
Com a Safespace, sua empresa conta com um canal de escuta para que as pessoas colaboradoras enviem seus relatos em caso de desvio de comportamento organizacional.
Uma plataforma de denúncias ainda traz a garantia de que a mensagem enviada será recebida por uma equipe isenta e especializada para analisar o caso. O elo de confiança da equipe é reforçado e o envio de mensagens incentivado.
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