Perguntas e provocações sobre Gestão de Diversidade nas organizações com Gabriela Melo

gabriela melo consultoria em diversidade e inclusão

Em nosso Guest Space deste mês, você conhecerá um pouco sobre a história de Gabriela, que hoje é consultora e especialista em Gestão de Diversidade e Inclusão Estratégica para empresas.

Gabi nos conta como uma economista formada pelo Insper saiu de um cargo estável no mercado financeiro para fazer voluntariado em Diversidade e Inclusão e, em seguida, ajudar empresas a construírem culturas de acolhimento e inovação. Além disso, durante a conversa, Gabriela da dicas estratégicas sobre D&I e pontua alguns fatores importantes sobre a pauta, como a necessidade de ações que realmente se conectam e geram resultados.

Embarque conosco neste artigo e tenha a certeza de que você aprenderá algo importante!

Gabi, você pode nos contar um pouco sobre sua trajetória e o que te levou a trabalhar com Diversidade e Inclusão?

Bom, me formei em Economia no Insper. Por conta disso, comecei a trabalhar no mercado financeiro. Lá, vivenciei um ambiente de trabalho com que pecava bastante no quesito Diversidade. Não é segredo que este mercado, até hoje, tem muitos pontos a melhorar quando falamos sobre inclusão e equidade. Só que antes de chegar nessa conclusão, precisei passar por um intenso processo de descoberta. 

Este processo teve início após ouvir diversas vezes que “o mercado de trabalho é assim mesmo” ou “esse é o mercado de trabalho” diante de situações discriminatórias que me incomodavam. Se eu estava incomodada e outras pessoas também, então o padrão considerado correto deveria ser outro, não? Este foi o impulso para que eu passasse a usar muitas horas do meu tempo estudando, inicialmente, sobre questões de gênero até ter o entendimento de que eu estava certa em querer ser tratada com respeito. Até que, num certo dia, me caiu a ficha do privilégio. Até ali, inclusive, o conceito de “privilégio” era inexistente dentro da minha bolha social. Por mais que estivesse ruim para mim por ser mulher, ainda tive a oportunidade de ocupar aquele lugar e que, ao olhar para o departamento por inteiro, não havia nenhuma diversidade além de gênero binário (homem e mulher).

Após esse choque, passei a buscar informações para entender o que eu poderia fazer para que pessoas de todos os lugares, gêneros, etnias, dentre outros marcadores sociais, pudessem ter as mesmas oportunidades que eu. A resposta veio: Gestão de Diversidade e Inclusão. Ou seja, olhar para o tema Diversidade como algo transversal. Pensar em objetivos, métricas, metas, planejamentos e assim institucionalizá-lo. O foco passou a ser colocar a inclusão como parte da empresa e não apenas como bandeira pessoal de algumas pessoas colaboradoras. 

Como não tinha faculdade ou curso de especialização sobre a pauta, busquei construir as oportunidades para aprender e aplicar. Fiz uma pós em Gestão de Inovação Social no Amani Institute, montei 2 consultórios e fui para os EUA descobrir tudo o que diziam por lá que ainda não era dito aqui. De volta ao Brasil, co-fundei e dirigi a TODXS Consultoria. Hoje, trabalho como consultora de Diversidade & Inclusão 360º, ou seja, diversidade de gênero, raça, sexualidade, deficiência e geração. Afinal, quando estamos olhando para D&I como estratégia de negócio (meu foco), queremos mapear o máximo de pluralidade para obter resultados mais eficientes, além de ser o mais inclusiva possível.

Sobre as mudanças que a TODXS estimula na sociedade: quais resultados você pode dizer que foram colhidos?

No início, há quase 4 anos, a TODXS Consultoria tinha o papel de explicar o que era Diversidade e Inclusão e, junto a isso, fornecer ferramentas para que as pessoas conseguissem convencer a alta administração das empresas a aprovar orçamento voltado para ações de equidade. Ou seja, demoramos longos meses para fechar propostas. Hoje, a conversa é um pouco diferente. Como diversidade é um assunto abordado por muitas pessoas e é importante para algumas empresas, existe uma maior predisposição para se trabalhar com o tema.

Em relação a resultados, no período em que estive como Diretora, tivemos mais de 14 projetos completos entregues; muitas sementinhas plantadas que deram e dão bons frutos; materiais institucionais para endossar posicionamento e educar pessoas e muitas estruturas ajustadas para possibilitar a inclusão. Dos projetos mais queridos, cito o que desenvolvi junto a Votorantim, MASP e Octagon Brazil.

 

Quais você acredita que são as principais dificuldades do mercado de trabalho sobre a pauta?

O ponto principal é a ausência de objetivo. Como em qualquer área, saber aonde a empresa  quer chegar proporciona um planejamento mais eficiente com ações que realmente se conectam. É a partir do objetivo da organização que se estipula indicadores. Esses indicadores irão nortear o acompanhamento e a meta para saber quais resultados busca-se atingir. 

Aqui é importante pontuar que esse objetivo, como qualquer outro em uma empresa, tem que estar alinhado a estratégia de negócio e a cultura organizacional. De nada adianta abordar Diversidade e Inclusão apenas como estratégia de Marketing e não atrelar isso a uma verdadeira (e possível) mudança estrutural. 

Um outro problema ainda latente que podemos somar aqui, é o fato de que são poucas as empresas que contratam e estruturam áreas e pessoas focadas nesse tema. Ainda existe uma jornada dupla de Diversidade e Inclusão. Essa jornada dupla normalmente acontece quando pessoas colaboradoras dentro das organizações lutam por equidade e precisam desenvolver por si só algum tipo de comitê ou grupo. 

 

Muitas empresas ainda são dirigidas e lideradas por pessoas que acreditam que Inclusão não é importante. Como você pontua a importância da pauta?

Que passem a entender a Diversidade e Inclusão como algo estratégico dentro da organização e, então, possa ser acompanhado por meio de uma gestão. 

É claro que atuar com base na equidade é a coisa certa a se fazer, mas as empresas precisam entender também que existem múltiplos benefícios para todos os lados. Para as empresas no caso, já existem pesquisas de instituições como a McKinsey que apontam aquelas que abraçam a diversidade superam outras em inovação e colaboração, têm lideranças mais eficientes, além de ter ambientes de trabalho mais felizes e com melhor retenção de talentos. Só com esses argumentos vamos realmente mexer os ponteiros de D&I no mercado de trabalho.

Você tem indicações de materiais para as pessoas que querem se aproximar ou ainda se aprofundar sobre pautas sociais relacionadas a D&I?

Vou deixar sugestões necessárias de leitura:

por um feminismo afrolatinoamericano lelia gonzalez

Por um feminismo Afrolatinoamericano
(Lélia Gonzalez)

historia do movimento LGBT no brasil

História do Movimento
LGBT no Brasil
(Múltiplos autores)

problemas de genero judith butler

Problemas de gênero
(Judith Butler)

preconceito contra as pessoas com deficiência joão ribas

Preconceito contra as pessoas com deficiência
(João Ribas)

coleção feminismos plurais

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