Casos de assédio vão acontecer na sua empresa. Como se preparar para lidar com eles?

Não é preciso ir longe nas pesquisas para encontrar notícias e posts sobre denúncias de assédio dentro de empresas. E, muitas vezes, quando ganham repercussão, os episódios já não se limitam a uma pessoa ou um evento isolado. Permitir que essas situações escalem reflete um problema intrínseco à cultura daquela organização.

É compreensível assumirmos, como empresas, posturas assertivas de que casos de assédio não podem acontecer dentro do ambiente de trabalho. Afinal, trata-se de um comportamento que deve ser repreendido moralmente. Mas é exatamente este raciocínio que torna o tema um estigma.

O problema mais comum em lidar com o assédio sexual de forma tão sensível é só engajar com a questão quando se torna uma crise. Seja no modelo remoto ou entre as paredes do escritório, a chave para combater o problema está em reconhecer que ele vai acontecer. Controverso, não?

Para compreender, é preciso analisar o assédio sexual como uma manifestação de abuso de poder. As relações hierárquicas que permeiam os espaços de trabalho têm forte influência no comportamento das pessoas, o que abre caminho para que desvios de conduta aconteçam.

Entenda o problema estruturalmente

Suponhamos o seguinte cenário: uma startup, ainda recente, começa com um grupo de pessoas conhecidas. Algumas contratações são feitas por indicações próximas e, mais tarde, por processos seletivos abertos ao público. 

De início, é difícil pensar que qualquer mau comportamento vai existir entre aquele grupo. A ideia, ali, é a construção de um time de pessoas talentosas com um mesmo propósito.

Na complexidade das interações humanas, é muito importante que equipes se preparem para identificar pequenos sinais de alerta. Pode começar com pequenas piadas entre colegas, alguém que bebe demais e tem toques impróprios ou trocas de imagens/vídeos sugestivos. 

Então, a empresa cresce e junto a ela uma cultura disfuncional, que não transmite segurança. No dado contexto é mais fácil visualizar o caminho a ser seguido, em comparação com uma empresa que tem um número maior de pessoas colaboradoras, processos e níveis hierárquicos. Mas independente do porte ou setor no qual uma empresa está inserida, é preciso olhar para o problema do assédio sexual sob a ótica estrutural. 

Hoje, líderes que buscam o crescimento de suas organizações em direções saudáveis e mais éticas devem passar por cima do desconforto e se preparar, de forma realista, para lidar com o assédio.

Como se preparar para lidar com o assédio sexual

Mude a forma como você aborda o assunto

Falar sobre assédio sexual é extremamente delicado, isso é inegável. Ainda sim, a discussão sobre o problema deve vir antes dele. Isso mostra que a organização assume uma postura vigilante em relação a esse tipo de conduta, e abre um espaço acolhedor para o diálogo. 

Promova treinamentos que projetem cenários reais, para que as equipes consigam identificar e aplicar os aprendizados em seus próprios contextos. 

Na SafeSpace, elaboramos treinamentos periódicos para as empresas clientes, que usam a plataforma. A maior parte das pessoas colaboradoras marcam presença e engajam ativamente, em especial por nunca terem encontrado espaços abertos para falar e tirar dúvidas a respeito dos temas.

Garanta que seu time tenha as ferramentas necessárias

Equipar as pessoas colaboradoras para relatar casos de assédio no dia a dia é dar a elas protagonismo no enfrentamento do problema. É importante que a empresa abra uma plataforma de escuta para os times, priorizando a usabilidade fácil, a comunicação acessível e a possibilidade de relatos anônimos. 

Em muitas empresas, ter um canal de denúncias não é sinônimo de ter um ambiente de trabalho seguro. Tenha em mente que, antes de qualquer relato, a pessoa colaboradora precisa ter certeza que aquela questão será levada a sério, investigada e, no melhor cenário, resolvida.

Tenha um Código de Ética e Conduta bem desenhado e de fácil acesso

As políticas da empresa relacionadas a assédio sexual devem ser muito bem definidas e disseminadas no ambiente de trabalho. Isso inclui o compromisso da organização com a apuração de cada relato, a proteção contra qualquer tipo de retaliação e as consequências a serem aplicadas.
Aqui, você encontra um material gratuito preparado pela SafeSpace com um passo a passo para criar o seu Código de Ética e Conduta, passando por boas referências no desenvolvimento do documento até apoio no processo de divulgação interna dele.

Entenda o papel da testemunha

Pior do que ser alvo de assédio sexual é se rodear de pessoas que veem o que está acontecendo e não tomam nenhuma atitude em relação a isso. A testemunha assume um papel muito importante diante de casos desse tipo, e tem a possibilidade de mostrar apoio de várias formas diferentes. 

Em parceria com a Todas Group, foram levantados os 5 Cs, como forma de orientar pessoas que venham a testemunhar algum ato de assédio no ambiente de trabalho: 

  • Confrontar: interferir na hora em que o comportamento acontece, se for seguro. Tenha certeza de que a pessoa vulnerável naquela situação quer que alguém se manifeste publicamente para ajudá-la.

  • Cortar: de forma sutil, interrompa uma situação sem mencionar o ato de assédio. Faça uma pergunta, comece uma conversa aleatória.

  • Comunicar: você pode sempre procurar uma pessoa terceira para interferir na situação, seja ela uma supervisora, alguém da área de RH ou alguém próximo à vítima.

  • Confortar: mostre à pessoa vulnerável que você reconhece o comportamento que está acontecendo ali e que, de acordo com as políticas da empresa, ela pode enfrentar o ocorrido com segurança. 

  • Comprovar: independente da forma como a vítima escolhe agir, é muito importante registrar o comportamento. Assim, quando um relato for feito em cima daquele desvio de conduta, sua documentação vai servir como ferramenta de comprovação.

Repense alguns questionamentos

É muito importante praticar uma escuta ativa e deixar de lado alguns vieses inconscientes que inviabilizam o relato e questionam a credibilidade da pessoa que busca ajuda.  Acolha a vítima e passe a certeza de que aquele é um ambiente seguro para diálogo, antes de questioná-la.

Não questione a demora de uma pessoa para fazer um relato de assédio sexual, por exemplo. Prefira entender quais os obstáculos que ela enfrentou para ter conseguido, só agora, relatar o acontecido. 

Uma postura proativa protege a pessoa colaboradora e a empresa

Justamente por ser um comportamento enraizado na estrutura sócio-cultural, manifestar-se sobre casos de assédio pode ser um desafio enorme. Não agir sobre o problema, além de causar danos maiores para as pessoas envolvidas, representa um risco enorme para as organizações, prejudicando suas culturas e reputações. Isso sem mencionarmos os custos financeiros atrelados a processos judiciais.

Por isso, vale frisar: nenhuma empresa está livre de uma situação de assédio sexual, mas se preparar para enfrentá-la pode diminuir os impactos desse comportamento, tanto para a empresa quanto para a pessoa colaboradora em contexto vulnerável. 


 
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